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Linguagem: quando é preciso consultar um fonoaudiólogo?

Especialistas explicam quais sinais indicam atrasos na fala A maior parte das crianças começa a falar por volta dos 12 meses....

terça-feira, 24 de novembro de 2009

Gagueira tem tratamento fácil e eficiente


A gagueira é uma perturbação da fala, de origem psicomotora, que se caracteriza pela repetição das sílabas e paradas involuntárias no início das palavras, na definição do "Dicionário Houaiss". No entanto, é muito mais do que isso para cerca de 1% da população mundial vitimadas pelo distúrbio, numa proporção de quatro homens para uma mulher. No Brasil, o Centro de Especialização em Fonoaudiologia Clínica (CEFAC) calcula em 1,8 milhão de os brasileiros que sofrem com o problema.


Normalmente, surge entre dois e quatro anos de idade. Falta de fluência no ritmo, interrupções atípicas e involuntárias do indivíduo na fala, com repetições, hesitações, bloqueios, prolongamentos e tensões corporais e faciais são sintomas que podem vitimar pessoas de qualquer raça ou cultura. Segundo os especialistas, o distúrbio é tratável, porém também pode ser resolvido naturalmente. Segundo Jaime Zorzi, fonoaudiólogo da CEFAC, a ansiedade de quem convive com a pessoa que gagueja é maior do que a do "disfluente", como são chamados.
Quando a criança demonstra os primeiros tropeços, pausas ou demora mais para dar início à palavra, que é uma situação absolutamente normal, a tendência natural dos adultos é se antecipar e completar a palavra ou a frase que a criança pretendia proferir. Zorzi diz que esta atitude não é adequada e só contribui para chamar a atenção da criança para um problema que ela, geralmente, não percebe que é errado.


Zorzi verifica que em situações de estresse, todos podem gaguejar. "Sob pressão, qualquer pessoa tem dificuldade em controlar a fala. Nessas horas, pedir calma, paciência ou mandar a pessoa respirar não adianta. É preciso respeitar o tempo de cada um ao pronunciar as palavras e esperar com tranqüilidade, evitando pressionar e aumentar o foco de estresse do gago", ensina.
De acordo com o especialista, pais e professores têm uma função essencial ao detectar qualquer anormalidade na fluência da fala das crianças: encaminhar para um profissional da fonoaudiologia, que está preparado para avaliar o caso e, se necessário, fazer indicação para um médico especialista, psicólogo ou psiquiatra.

A proposta da fonoaudióloga Sílvia Friedman, há 30 anos trabalhando na área, é tratar a disfluência como uma situação normal. Ela não busca razões físicas para o problema, que vê como uma situação psico-social, diferente da maioria dos estudos da gagueira, que pressupõem razões orgânicas para o distúrbio. "Disfluir é normal. Todos, ao falarmos, temos certa hesitação, elaboramos o pensamento, pensamos mais e isso faz atrasar a saída das palavras", explica.
Para Sílvia Friedman, essa disfluência não deve ser tratada inicialmente como gagueira, que só ocorre quando há uma rejeição da fala da criança pelo adulto, quando não há aceitação da disfluência normal. Nesse caso, algo sobre a fala é dito para a criança e isso causa grande inibição para dar prosseguimento ou iniciar um discurso. "A criança passa a querer controlar a fala, o que vai dizer e não consegue. Essa tentativa de controle traz muita preocupação, ansiedade e vergonha de falar. É um desejo de controlar o que é incontrolável, e é assim que se instala a gagueira", observa Silvia.

TRABALHO EM GRUPO E MÚSICA - A especialista coordena grupos de adultos, crianças e adolescentes que aprenderam a lidar muito bem com situações de estresse. "No CEFAC, trabalhamos individualmente e em grupo e com sensibilização para que as pessoas larguem mão desse controle e percebam os sons, as vozes, o próprio corpo. É possível imaginar que a palavra vai sair de forma natural, sem pensar. Ninguém pensa para falar, quando vai ver, já falou. É um ato autônomo, independente e isso precisa ficar claro para quem gagueja." Silvia explica que trabalha bastante com música. É muito comum as pessoas dizerem que para cantar não gaguejam, pois estão falando sem pensar. Isso pode ser aproveitado e repassado para as situações normais de fala.

As pessoas em geral precisam se dar conta dessa normalidade da disfluência e não chamar a atenção da criança para a demora na articulação e verbalização das palavras, muito menos completar as frases e palavras. Nesse aspecto, a família e a escola têm papeis fundamentais, pois são quem têm mais contato com a criança nessa fase. Se pessoas da família e professores disserem para a criança que ela não está falando direito ela se sentirá mal. "Não se deve chamar a atenção quando a criança disflui, deve-se aceitar o tempo interno dela para a elaboração dos pensamentos e da fala", ensina a profissional.

Não existem estudos definitivos que comprovem a causa da gagueira e, hoje, alguns deles apontam para fatores hereditários e congênitos. Só o fator genético não explica a gagueira; há um conjunto de fatores que pode provocá-la, como os aspectos motores da fala, emocionais, afetivos, cognitivos e lingüísticos, entre outros.

O tratamento precoce é fundamental e deve ocorrer num período médio de seis meses a partir do surgimento dos primeiros sintomas. Os especialistas asseguram que submetidos a um tratamento fonoaudiológico adequado, há pacientes que se livram de todos os sintomas, independentemente da idade.


Além da gagueira, também conhecida como gagueira do desenvolvimento, a fonoaudiologia reconhece outros quadros considerados como Distúrbios da Fluência: a taquilalia – fala rápida, mas desorganizada -, a taquifemia – quadro mais complexo de fala rápida e desorganizada, com a presença de uma inteligência muito viva; além da gagueira neurogênica, atribuída a fatores orgânicos de ordem neurológica e a gagueira psicogênica, atribuída a fatores psicológicos. Um fonoaudiólogo especializado no tema tem competência para avaliar, fazer o diagnóstico diferencial, traçar um planejamento adequado de tratamento.


Por Solimar Garcia,
Especial para Agência Estado