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segunda-feira, 23 de agosto de 2010

Orientações fonoaudiológicas para familiares e cuidadores de pacientes portadores de afasia


A afasia é um distúrbio da comunicação oral e/ ou escrita adquiridos após uma lesão no Sistema Nervoso Central (SNC). As características das alterações da linguagem variam de um indivíduo para o outro. Existem várias formas de afasia que podem se caracterizar por:
·         uma leve alteração durante a fala com incapacidade para produzir alguns sons e palavras, associado a uma dificuldade na escrita e na leitura.
·         uma limitação importante da expressão oral, da escrita, da compreensão e da leitura.
·         uma perda grave da fala (quase ausência) e da compreensão com incapacidade para leitura e escrita.
Em alguns casos, o paciente consegue falar razoavelmente, mas com a velocidade da fala alterada. As orações podem ficar desorganizadas, o que freqüentemente está associado à dificuldade para ler ou escrever, calcular, para cantar. Em outros casos, quando o dano cerebral não é tão extenso, a afasia pode apresentar uma forma mais leve, já quando o paciente apresenta um grande comprometimento para comunicar-se, necessita de acompanhamento com orientações mais especializadas.
Existem aspectos do tratamento do distúrbio da linguagem que devem ser abordados por um especialista, pois necessitam de uma abordagem específica. As orientações também são oferecidas em casos para os quais o atendimento fonoaudiológico em consultório não é indicado, mesmo assim, sempre é necessário que se aborde a família do paciente afásico.
É importante lembrar que, na afasia, não se pode precisar o tempo da reabilitação ou o quanto o paciente poderá recuperar a linguagem. Mesmo assim, sabe-se que a motivação e o empenho da família são aspectos que são importantes durante o tratamento, pois o paciente encontra-se fragilizado por suas dificuldades. Além disso, na maioria dos casos, os ganhos obtidos, principalmente no primeiro ano após a lesão cerebral, e/ ou as seqüelas que persistirem, são aspectos praticamente estabelecidos.
A afasia é um distúrbio apenas da linguagem, mas pode ocorrer associada à perda da memória, a déficit cognitivo ou mental, quando a lesão cerebral comprometer todos estes aspectos.
As orientações apresentadas neste material são simples, e o seguimento por todas as pessoas que participam do ambiente do afásico é importante para que tomem a mesma conduta de comunicação. O familiar e/ ou um acompanhante com maior disponibilidade e melhor entrosamento com o paciente deverá acompanhá-lo. Sugere-se que parentes que apresentem dificuldades de relacionamento prévias com o afásico não se envolvam diretamente com o tratamento da linguagem.
Orientações domiciliares
·         A motivação, a compreensão e o apoio da família nos mais diversos aspectos são fundamentais para que o paciente manifeste e mantenha o interesse em executar o que foi prescrito.
·         Por mais incompreensível que seja a fala do paciente, devemos nos dirigir ao afásico sempre demonstrando tranqüilidade. Sua dificuldade para a comunicação pode piorar caso ele perceba que seu interlocutor está ansioso por sua resposta.
·         Quando o paciente apresentar um bloqueio ou sentir dificuldade para iniciar a fala, deve-se auxiliar a comunicação dando “pistas” ou “dicas”, não falar por ele nem corrigir.
·         Não deixar que ele permaneça em ambientes tumultuados caso não tenha certeza que ele se sente à vontade. Freqüentemente, sua dificuldade para compreender o que outros falam pode piorar nestes locais por confundir as informações dos indivíduos conversando.
·         Em uma festa de família ou qualquer evento onde várias pessoas poderão dirigir-se ao afásico, ele deverá contar com algum acompanhante já bastante adaptado ao problema da linguagem para auxiliar a comunicação.
·         Informar aos parentes e amigos para que não façam visitas em grupo, principalmente após o período inicial e mais crítico da doença, pois o paciente pode ficar bastante ansioso por não conseguir comunicar-se com um grupo. Solicitar que façam visitas individuais.
·         O paciente poderá apresentar, após a lesão, um comportamento instável. Poderá apresentar choro freqüente, riso incontrolado, agressividade, irritação, depressão ou falta de iniciativa. Deve-se entender que a maior parte destas reações fogem a sua vontade, são decorrentes do distúrbio neurológico. Pode-se adequar sua conduta naquele momento desviando sua atenção do que tenha desencadeado o problema.
·         Logo após a fase crítica, podemos perceber alterações da memória associadas ao distúrbio da linguagem. O paciente poderá recuperar completamente a memória e permanecer com a comunicação deficiente ou recuperar a linguagem e permanecer com deficiências na memória. Tudo dependerá do tipo de lesão cerebral.
·         Associado ao quadro, o paciente afásico também poderá apresentar distúrbios dos movimentos nos membros superiores e inferiores de um mesmo lado (hemiplegia).
·         A recuperação deste aspecto motor nem sempre estará associada à reabilitação da comunicação, isto é, o paciente poderá ter melhora nos movimentos e manter uma limitação mais grave na linguagem.
·         Em relação aos familiares que convivem com o paciente, deve-se lembrar que não deixem transparecer seu compadecimento como por exemplo: chorar ou fazer observações de comiseração pelo paciente. Estas reações podem deixá-lo desestimulado a manter contato com outras pessoas.
·         Mesmo que ele não tenha boa compreensão, não faça comentários que possam perturbá-lo (ex.: “Ele não poderá mais dirigir!”), como também não prometa ou afirme coisas a seu respeito sem antes confirmar com os especialistas que acompanham o caso. Existe uma lesão no Sistema Nervoso Central cuja recuperação nem sempre apresentará os resultados que se espera.
·         Mantê-lo sempre informado sobre os assuntos do dia a dia e participando das decisões, o máximo possível, de acordo com sua capacidade, como: escolher o passeio no fim de semana, suas refeições, roupas, entre outras preferências do paciente.
·         É necessário motivá-lo para realizar as atividades que executava antes do problema como: auxiliar na lista de compras do supermercado, na organização das despesas da casa ou tarefas que ele mesmo venha a sugerir, sempre com supervisão cuidadosa.
·         Seu familiar afásico deve ser tratado de acordo com sua idade e da forma mais natural possível. Apesar de estar mais dependente, até mesmo para a higiene pessoal ou alimentação, não significa que necessite ser abordado como uma criança.
·         Os pacientes que são bilingües (falam duas línguas), geralmente recuperam a língua materna primeiro, podendo levar algum tempo para recuperar o português.
·         Mas isto não é regra, alguns pacientes recuperam ou recorrem mais facilmente à língua estrangeira.
·         Situações em que o paciente poderá fazer escolhas como: as roupas que deseja vestir, na preferência do lanche, na programação da televisão, entre outros, devem sempre ser apresentadas a ele pois, mesmo não tendo uma boa compreensão, o paciente tem “noção” idéia do assunto e é importante que se sinta responsável pela escolhas de suas atividades.
·         Nos estágios iniciais ou em casos nos quais se tenha certeza de que o afásico não compreende o que se fala, devem ser utilizadas frases curtas e objetivas para perguntar algo. Como já foi citado anteriormente, aponte ou segure o objeto sobre o qual quer perguntar.
·         Da mesma forma, caso o paciente não consiga dizer o nome dos objetos e queira alguma coisa, aponte ou apresente a ele aquilo que você entende que ele esteja querendo, dizendo o nome ou escrevendo (ou as duas coisas), caso ele leia palavras simples, tenha sempre à mão uma prancheta com papel e lápis.
·         Dependendo do comprometimento da expressão oral do paciente, deve-se auxiliar simplificando as perguntas para facilitar as respostas. Formulam-se perguntas que ele possa responder apenas com “sim” ou “não”, permitindo-se que expresse mais palavras, caso tenha interesse.
·         Mesmo que o paciente não consiga falar as palavras corretamente, não corrigir, ao contrário, incentivá-lo continuando a “conversa” (se você conseguir compreender, já é o suficiente). Deve-se lembrar que ele está fazendo um grande esforço para se comunicar.
·         Existem vários momentos em que se pode “trabalhar” a linguagem. Por exemplo, antes da refeição, solicitar que o paciente escolha, como conseguir, o que gostaria de comer; após a refeição, estimular para que comente sobre o que gostou de comer, para escolher o que deseja comer na próxima refeição; permitir que ele escolha a roupa que deseja vestir; ao manusear seus objetos pessoais, incentive-o a contar sobre eles, quando comprou, se foi presenteado, entre outros aspectos. É importante que sejam aspectos bastante concretos aproveitando as atividades do dia-a-dia e da vivência do paciente.
·         Usar fotografias, principalmente aquelas que trazem lembranças divertidas ou situações que ele goste de relembrar. Não utilizar nenhuma recordação que o deixe ansioso ou deprimido. Poderá ocorrer um efeito contrário daquele que se espera, ou seja, o afásico poderá negar-se a falar.
·         As atividades deverão ser modificadas a cada dia (com temas diferentes) para evitar que o paciente apenas “decore” as palavras ou a frases.
·         Caso o paciente apresente um déficit severo da compreensão, não utilize palavras que não expliquem a situação concreta ou descreva claramente o objeto, por exemplo, evite usar preposições ou advérbios (em, dentro, ao redor, além, embora, etc.) sem a presença de algum gesto que as represente.
·         Quando for possível, embora sem exageros, procure gesticular e criar mímicas para interpretar aquilo que descreve dentro da atividade. O apoio visual facilita a compreensão por parte do paciente.
·         Não interromper se ele usar mímica ou gestos em demasia para comunicar-se. Provavelmente, é a única ou a melhor forma que consegue expressar seus desejos no momento. Manter-se paciente e compreensivo.
·         Também é importante manter a tranqüilidade quando ele estiver “contando” algo, mesmo que as frases sejam bastante incompreensíveis. Aprenda a analisar toda a sua expressão: face, mãos, braços, palavras confusas, jargão (fala sem sentido).
·         Se possível, não demonstrar que não está compreendendo logo no início da fala para que não se negue a continuar falando. Após ele iniciar, quando estiver fluindo mais, interromper com delicadeza auxiliando em seus bloqueios, dando “dicas”, fazendo perguntas sobre o assunto para confirmar se é aquilo que o paciente quer dizer.
·         Criar situações para que ele se manifeste, quanto mais tentar falar, maior será o “exercício”. À medida que vai evoluindo clinicamente, o paciente fica mais consciente de seus erros e tenta adequar seu padrão de fala.
·         Caso ele não compreenda definitivamente o que você quer perguntar ou contar, aguarde alguns momentos e aborde de outra maneira. Insistir poderá deixá-lo ansioso ou deprimido.
·         Se o paciente tem capacidade para a leitura, apresentar palavras importantes para o seu convívio como: nomes dos familiares, objetos do seu interesse ou uso diário, alimentos, entre outros. Usar letras de forma e escrever em folhas que ele tenha acesso quando quiser.
·         Algum erro cometido pelo afásico poderá realmente ser engraçado, mas não se deve criticar nem rir de seus esforços, ele ficará inibido em tentar novamente, prejudicando a reeducação.
·         À medida que você perceber progressos na reabilitação, diminua o seu auxílio para que o paciente se torne cada vez mais independente.
Estas são apenas algumas das orientações que se sugere para familiares e cuidadores. Como já descrito, a abordagem e os procedimentos devem ser adequados a cada caso e de acordo com as possibilidades da família. Além disso, em caso de dúvidas, sempre consultar os especialistas que acompanham o paciente para o manejo de sua comunicação.

Simone A. Finard de Nisa e Castro*
Antonio Cardoso dos Santos**