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sábado, 7 de maio de 2011

Desmame


Fonte: Absoluta Baby

Especialista discute as saídas para um desmame saudável e natural, sem sequelas para a mãe e o bebê. Confira!

A professora Carolina Santana, paulista de 38 anos, adorou curtir todas as etapas de sua gravidez e o esplendor do nascimento de seu filho Caio, hoje com sete anos. Na época, uma de suas maiores expectativas era com relação à amamentação. A mestre em filosofia queria fazer tudo como os médicos prescreviam e seguir a recomendação do Ministério da Saúde: amamentação exclusiva até os seis meses e complementada até os dois anos podendo estender-se. Quem mais gostou da iniciativa foi Caio, que não queria largar o seio da mãe até quase chegar aos seus quatro anos. Ao completar dois anos, a filósofa já vivia o paradoxo de não querer interromper a amamentação e voltar ao mercado de trabalho, mas diante das dificuldades para parar, ela resolveu seguir com o aleitamento materno. “Foi uma escolha maravilhosa, mas com isso demorei a voltar a me dedicar à profissão que tanto estudei para seguir e a me estabilizar financeiramente”, aponta.

Já a produtora cultural Ana Lima Sampaio, carioca de 32, mãe de Rosa, fez a mesma coisa até a filha completar 15 meses, quando recebeu uma proposta de trabalho irrecusável e optou por parar quase bruscamente. “No início tentei conciliar, mas depois ficou insustentável, o trabalho era muito intenso e não dava mais para acordar nas madrugadas, nem oferecer o seio naquele soninho da tarde. Achei melhor parar de uma vez”, conta. Mas o processo não foi fácil e a produtora chegou a consultar um médico e até outras mães, sem sucesso. “Ela chorava sentindo falta, meu seio doía muito e não parava de inchar, essas dificuldades ainda somavam-se a um vazio e uma tristeza imensa de minha parte. Parecia que eu tinha entrado numa depressão junto com minha filha. Eu andava estressada e ela agressiva”, relata.

As dificuldades dessas mães permeiam salas de consultório, pátios de creches e em todos os redutos de papo de mãe sempre se escutam os mais diversos relatos sobre o processo de desmame. A dificuldade para voltar ao trabalho, bebês que mordem o seio, bebês que mamam durante toda a madrugada e até receitas estranhas são mencionadas a todo tempo. É comum ver nos fóruns de diversos sites direcionados, mães contando suas dificuldades neste momento e outras indicando o uso de pimenta, café, esparadrapo e outros aditivos para ajudar a “cortar” o aleitamento materno. A importância da amamentação é inquestionável, porém o processo de desmame é alvo de questionamentos, incertezas e discordâncias. Por isso, nossa equipe foi procurar um especialista no assunto para ajudar as mães nesta hora e descobri, por exemplo, que um banco de leite é o melhor lugar para se procurar e que só um médico especializado em amamentação pode ajudá-la. Além disso, deve-se ficar alerta, pois há riscos para a mãe e para o bebê.

Confira a entrevista com o Prof. Dr. Valdecyr Herdy Alves, coordenador do Banco de Leite Humano de Hospital Universitário Antônio Pedro da UFF e presidente da Associação Brasileira de Obstetrizes e Enfermeiros Obstetras (ABENFO).

Portal Absoluta - Quando é a hora de parar a amamentação?
Dr. Herdy - A amamentação é o último momento do período gravídico puerperal (concepção, gestação, parto - nascimento e puerpério), onde a  mulher e bebê vivenciam a troca fisiológica do processo de nascimento, regados de hormônios como, por exemplo, a ocitocina que favorece em muito a criação do vínculo e a sensação de bem estar entre mãe e filho. Hoje temos como norte para o momento de realizar a transição da amamentação para a comida caseira, seguindo as orientações do Ministério da Saúde, o aleitamento até os seis meses exclusivamente e, a partir daí manter até dois anos complementando com a alimentação da própria família. Assim, quando devemos parar de aleitar? Na verdade, é um processo vivenciado a dois, mãe e filho, e deve ser construído de forma a não trazer prejuízos para ambos. Após os seis messes a mulher deverá implementar os alimentos de forma prazerosa para o bebê, iniciando o desmame gradativamente. Esse processo não é fácil, porém hoje temos os bancos de leite humano que trabalham dando esse apoio às mulheres no processo de desmame natural.

Portal Absoluta - E como é feito este auxílio?
Dr. Herdy- Onde atuo, orientamos o uso de um trabalho lúdico com a criança, ajudamos a esvaziar o seio para evitar uma possível mastite e guiamos a mãe nos procedimentos usados e na questão psicológica de ambos.

Portal Absoluta - Como fazer da forma mais natural?
Dr. Herdy - A forma mais natural é na relação construída entre mãe e filho, onde o processo de amamentação vivenciado de forma prazerosa dará possibilidades da mulher, após os seis meses, iniciar a alimentação de papas para a descoberta de novos sabores pelo seu bebê. Esse processo é natural, não é necessário usar artifícios como perfume nas mamas ou outros produtos para inibir o desejo do bebê, isso é perverso, pois a frustração do bebê será grande. Nestes casos, temos hoje profissionais de saúde capacitados para trabalhar com esse processo de desmame, o banco de leite humano tem um papel muito efetivo neste momento. Não estamos lá para incentivar o desmame, mas para auxiliar quando ele se impõe, para que ele seja feito da melhor maneira possível.

Portal Absoluta - Como vê o uso de aditivos no seio (café, pimenta, esparadrapo)? Que danos eles podem causar?
Dr. Herdy - O uso desses aditivos são crendices, não ajudam e não trazem beneficio nenhum para a mulher e nem para o seu bebê e, ao contrário, podem trazer prejuízos como as infecções mamárias e bucal nos bebês.

Portal Absoluta - Que conselhos dar a uma mãe que precisa diminuir ou cessar bruscamente a amamentação por motivos profissionais ou qualquer outro?
Dr. Herdy - Neste caso, é necessário um apoio do banco de leite ou de um profissional de saúde especializado em amamentação, pois os prejuízos poderão ser grandes para a vida do bebê, é necessário um trabalho de desmame onde a frustração não seja vivenciada tanto pela mãe como pelo bebê. Hoje temos técnicas que facilitam esse processo emergencial do desmame, temos várias possibilidades, o mais importante é criar um ajuste para que ambos não sofram com essa situação.

Portal Absoluta - Quais são os impactos psicológicos para a mãe e para o bebê no desmame?
Dr. Herdy - Os impactos são vários, porém o maior é a frustração que se institui na mulher e no bebê. Essa carência vivenciada em especial pelo bebê traz correlações para toda a vida desta criança, estudos científicos descrevem, por exemplo, a agressividade infantil como uma das possibilidades do desmame precoce.

Portal Absoluta - Existe alguma espécie de "depressão pós-amamentação" que caracteriza a sensação de vazio ao término da amamentação?
Dr. Herdy - Sim. Algumas mulheres apresentam dificuldades em realizar o desmame, por várias questões vivenciadas, uma delas é a carência afetiva que se dá. Deixar de dar o seio é vivenciar o distanciamento fisiológico de nutrir sua cria, é a segunda separação real vivida pela mulher, primeiro o nascimento e segundo o desmame.

Prof. Dr. Valdecyr Herdy Alves

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