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Linguagem: quando é preciso consultar um fonoaudiólogo?

Especialistas explicam quais sinais indicam atrasos na fala A maior parte das crianças começa a falar por volta dos 12 meses....

quinta-feira, 25 de agosto de 2011

A visão e a audição do bebê

Veja como acompanhar o aperfeiçoamento da visão e o desempenho da audição do seu bebê


Superempolgada com os avanços do bebê nos primeiros meses, nem sempre a mãe se liga em acompanhar também o aperfeiçoamento da visão e o desempenho da audição. Esses dois sentidos são fundamentais para o progresso da criança. É por eles que o pequeno recebe os estímulos que vão permitir que ele se expresse e se relacione com o ambiente ao redor.

Nas primeiras semanas, a visão do recém-nascido ainda é pouco nítida. Ele percebe padrões (como listras) e contrastes (como preto e branco), mas não distingue cores nem formas. Além disso, os olhos não captam imagens que estejam a mais de 30 ou 40 centímetros de distância. "A visão é um dos sentidos que mais se desenvolvem nos primeiros meses, quando há o amadurecimento acelerado das conexões entre as células dos olhos e a parte do cérebro responsável por traduzir em imagens as informações captadas. Só por volta do sexto mês que a visão tridimensional está pronta", diz a oftalmopediatria Célia Nakanami, de São Paulo.

A audição funciona plenamente desde o nascimento. "O bebê escuta como adulto. A diferença é que, com o passar dos meses, aprende a identificar a origem dos sons e a relacioná-los com as situações", diz o otorrinolaringologista Fernando Veiga Angélico Júnior, de São Paulo.

Ainda na maternidade

O sucesso dessas aquisições, porém, depende de cuidados que devem começar na maternidade, como os testes do olhinho e da orelhinha. Gratuitos em quase todas as maternidades públicas e privadas, eles são simples e investigam o risco de doenças congênitas que possam ameaçar o desenvolvimento da visão e da audição.

Caso alguma anormalidade seja detectada, o neonatologista orienta os pais a procurar um especialista. Afinal, quanto mais precocemente o problema for diagnosticado e tratado, maiores as chances de minimizar as perdas. "Quando há um quadro de catarata, por exemplo, é possível fazer uma cirurgia de substituição do cristalino antes do terceiro mês, para que o bebê não sofra interferência no desenvolvimento visual", diz Célia. No caso de problemas com a audição, a correção pode ser feita com o uso de um aparelho auditivo. "Assim, garantimos que o processo de aquisição da fala e da linguagem aconteça sem prejuízos", afirma Júnior.

Estimular é essencial

Se está tudo em ordem com a visão e a audição do seu pequeno, basta proporcionar os estímulos certos para que esses sentidos se aprimorem. Ficar bem perto do bebê ao falar com ele, oferecer brinquedos de cores fortes e contrastantes e pendurar móbiles no berço são maneiras de ajudá-lo a treinar os recursos visuais. Após os 3 meses, incentive seu filho a explorar, com o olhar, diferentes ambientes, dentro e fora de casa. Brincar de esconder o rosto e mudar lentamente um objeto de lugar, de modo que a criança acompanhe sua trajetória, são outros bons estímulos visuais. Já para garantir uma audição apurada, converse bastante com seu bebê, cante para ele, conte histórias e deixe-o escutar músicas de estilos variados, incluindo as instrumentais.

Saiba que o investimento nesses primeiros meses se transforma em progressos futuros. "A criança que enxerga bem se concentra nas brincadeiras e explora melhor o ambiente", afirma Célia. Uma boa audição, por sua vez, favorece o desenvolvimento da linguagem e, consequentemente, da socialização. "Acredita-se que, até o oitavo mês, o bebê já aprendeu todos os sons básicos da sua língua nativa, o que é fundamental para que, logo, ele também esteja apto a reproduzi-los", afirma a fonoaudióloga Maria Cecília Marconi Pinheiro Lima.

Sinais que exigem atenção

Alguns sinais do bebê merecem uma consulta ao pediatra, pois podem indicar problemas de visão ou de audição. Conheça os indícios mais preocupantes.
  • Indiferença diante de ruídos fortes. Desde as primeiras semanas, a criança acorda, chora ou pisca os olhos para expressar seu incômodo quando o barulho é excessivo.
  • Incapacidade de fixar o olhar no rosto da mãe ou em um objeto colocado bem próximo após a quinta semana de vida e também, por volta do segundo mês, a falta de coordenação entre os dois olhos.
  • Globo ocular aumentado, falta de brilho ou mudança na cor dos olhos, pupilas esbranquiçadas e lacrimejamento.
  • Desinteresse em buscar sons e vozes movendo a cabeça e o olhar para as laterais entre o terceiro e o sexto mês.
  • 3 Ausência de vocalizações e sons rudimentares (como "bá-bá-bá" e "bu-bu-bu") a partir do final do sexto mês.
  • Falar de pertinho com o bebê é uma excelente maneira de estimular tanto a visão quanto a audição do pequeno. Aproveite para conversar com ele, em tom suave, enquanto troca a fralda ou amamenta. 

Por Rita Trevisan
Fonte Site M de Mulher

Brinque com seu filho de "faz de conta"


Aproveite as férias para brincar com o seu pequeno de "faz de conta". Esta simples brincadeira ajuda a criança a desenvolver a coordenação motora, enriquecer a linguagem e estimular o pensamento abstrato


Em uma única tarde, seu filho é capaz de ser um super-herói, o melhor jogador do mundo e o explorador incansável de cenários além da imaginação. A menina, por sua vez, transita com naturalidade tanto pelo papel de princesa quanto pela imitação de uma mamãe dedicada, dando de comer à boneca e trocando a fralda. No instante seguinte, nada impede que eles se transformem em leões ferozes ou astronautas... Afinal, o mundo da imaginação não tem limites.

O faz de conta é uma grande prova de inteligência. "Esses jogos, que começam como imitações despretensiosas, desencadeiam processos psíquicos cada vez mais complexos, que envolvem a observação de uma situação (real ou fictícia), sua análise e a capacidade de sintetizar e extrair significados do que está vivendo direta ou indiretamente. Só depois de todo esse trabalho mental, a criança reproduz nas brincadeiras o mundo imaginado", explica a pedagoga Maria Ângela Barbato Carneiro, de São Paulo.

Em outras palavras, por trás de uma diversão que parece simples, há uma série de atividades intelectuais conjugadas. Afinal, para representar um papel, seu filho primeiro precisa formar imagens mentais dotadas de significado e, em seguida, imaginar gestos e frases capazes de representá-las. "Assim, para brincar de mamãe e filhinha, a garota tem que observar o comportamento dos adultos e, depois, reproduzir o que foi capaz de internalizar, acessando a memória para isso. Na realidade, ela vai imitar um modelo que, no momento da brincadeira, estará ausente, o que é uma característica do pensamento abstrato ou simbólico", completa a psicóloga Vera Barros de Oliveira.

Imaginação a mil

Com frequência, entrar no mundo da fantasia é também uma oportunidade para os pequenos de se colocarem em situações que eles ainda não conseguem compreender muito bem. "Ali, no mundo do faz de conta, a criança tenta reproduzir, a seu modo, tudo o que está à sua volta, atribuindo um sentido à realidade", explica Vera.

Brincar é também uma ótima maneira de perceber a si e ao outro e uma oportunidade valiosa de passar a entender as diversas possibilidades de interação com outras pessoas e com o ambiente. "Por isso, dizemos que a criança representa os papéis sociais antes de se socializar de fato. É como se fizesse um treino sozinha, enquanto brinca, para depois testar as habilidades no grupo", completa a psicóloga.

Participação discreta

Não precisa muito para seu filho exercitar todo esse progresso. Com espaço para se movimentar, brinquedos apropriados à fase e liberdade para explorar alguns materiais de uso doméstico, como utensílios de cozinha e objetos decorativos, ele faz a festa. Facilmente, a tampa da panela vira um volante de carro e a vassoura se transforma em cavalinho. "Quem faz do objeto um brinquedo é a criança. Portanto, não precisa oferecer a ela uma coleção de brinquedos sofisticados. Em geral, bolas pequenas, bonecas, carrinhos que permitam carregar objetos, brinquedos de arrastar e puxar, peças grandes de encaixe, fantasias e fantoches garantem a diversão ao mesmo tempo que, por sua neutralidade, permitem criar e representar diferentes situações", explica Maria Ângela.

De vez em quando, os pais podem dar uma força, propondo um teatrinho, uma dança ou uma sessão de contação de histórias. Só é preciso cuidado para não dirigir a brincadeira o tempo inteiro dizendo como o pequeno deve manipular os brinquedos ou sugerindo situações que ele possa representar. "A criança precisa de tempo e de liberdade para brincar sozinha e fazer suas descobertas. Os pais só devem intervir quando forem solicitados ou para promover desafios que ajudem o filho a avançar nas explorações", aconselha a pedagoga.

Por Rita Trevisan
Fonte Site M de mulher

quarta-feira, 24 de agosto de 2011

Próteses Auditivas


As próteses auditivas são sistemas de amplificação sonora miniaturizados , utilizados para auxiliar pessoas com perdas auditivas a ouvir melhor os sons ambientais . são comumente conhecidas como aparelhos para surdez. Eles consistem em um microfone, um amplificador e um fone, podendo conter também sistemas de compressão, filtros e chips de programação.

Elas são recomendadas para pessoas com perdas auditivas neuro-sensoriais e para pessoas com perdas de transmissão que não podem ser operadas, ou apresentam problemas complexos que não podem ser resolvidos por procedimentos cirúrgicos.

Essa indicação inclui as situações de risco dos pacientes com um único ouvido socialmente utilizável, nos quais se prefere não indicar cirurgia. As próteses auditivas são recomendadas para pessoas com perdas auditivas leves, moderadas ou intensas, desde que se sintam confortáveis com o seu uso. Não existem limites rígidos de indicação no que diz respeito ao grau de perda auditiva, com exceção das perdas profundas, em que as próteses usualmente não trazem benefícios sociais satisfatórios . De forma geral recomenda-se próteses auditivas para as pessoas que apresentam perda auditiva de mais de 40dB no melhor ouvido.

Ainda existem muitos preconceitos sociais com relação as próteses auditivas , o que faz com que pessoas que delas necessitam tenham acanhamento em usá-las . Na verdade, usar próteses auditivas é como usar óculos. Algumas pessoas têm a falsa impressão de que a sua surdez pode passar despercebida, na verdade, a surdez aparece muito mais do que as próteses auditivas. A adaptação de próteses auditivas, contudo, pode ser muito complexa, e exige a participação de um otologista ou fonoaudiólogo dedicado. Ela não deve ser feita por vendedores ou representantes comerciais.

Do ponto de vista de suas dimensões, elas podem ser classificadas como:
  • Próteses juxta-timpânicas (completely in canal - CIC) - introduzidas recentemente, muito pequenas, ficam situadas na parte óssea do meato acústico externo,  muito próximas a membrana timpânica. Em função de sua posição, o efeito de oclusão, que é uma sensação de desconforto acarreta pela oclusão do meato por próteses ou molde é extremamente reduzido.
  • Próteses intrameáticas (in the canal - ITC) - pequenas, totalmente contidas no meato acústico externo. Próteses no pavilhão (in the ear - ITE) - um pouco maiores que as anteriores, ocupando toda a concha do pavilhão e prolongando-se para o meato acústico externo.
  • Próteses retroauriculares (behind the ear) - s ão utilizadas atrás do pavilhão auricular, sendo presas ao meato acústico externo por um molde de acrílico ou silicone. Os sons emitidos pelo fone em seu interior são levados ao meato por um pequeno tubo de plástico preso ao molde.
  • Próteses em óculos - praticamente s ó são utilizadas por pessoas que usam óculos permanentemente. Atualmente e também possível adaptar próteses retroauriculares a óculos.
  • Próteses de bolso - (bady aid - BA) - praticamente abandonados , eram utilizados quando havia necessidade de amplificação intensa. Atualmente esse grau de amplificação já pode ser obtido com próteses retroauriculares. O fone é separado da prótese e preso ao molde; um fio estabelece a comunicação do fone com o circuito de saída do amplificador.
  • Prótese por via óssea - possuem um vibrador em vez de fone, e se destinam exclusivamente a pessoas com atresia dos meatos acústicos externos ou a pacientes com otite média crônica supurada bilateral. Elas são utilizadas em outros pacientes com perdas condutivas em virtude dos vibradores distorcerem os sons; as próteses comuns melhor resultados nesses pacientes. Existem óculos com vibradores nas extremidades das hastes; ou pode-se utilizar uma prótese de bolso ligada a um vibrador ósseo do tipo utilizado pelos audiômetros.
  • Próteses por via óssea ancoradas ao osso - (boné anchored hearing aid - BAHA) - Este tipo de prótese, desenvolvido na Suécia e ainda em fase experimental, utiliza um pino de titânio que é fixado ao osso da região retroauricular. Uma pequena prótese externa e fixada a esse pino, de forma que a vibração se transmite diretamente ao osso, eliminando a perda de energia causada pela pele e tecido subcutâneo nas próteses ósseas convencionais. Essas próteses são particularmente aconselhadas nos casos de atresia do meato acústico externo e em pacientes com mastoidectomia radical bilateral.

Do ponto de vista do grau e da forma de amplificação, existem próteses dos seguintes tipos:
  • Próteses de médio ganho - Destinadas a pessoas com perdas auditivas leves ou moderadas.
  • Próteses de alto ganho - Para pessoas com perdas moderadas ou intensas.
  • Próteses com compressão - Para pessoas que apresentam o fenômeno do recrutamento e que, por isso são muito sensíveis a sons altos. O sistema mais comumente utilizado e o AGC (controle automático de ganho, ou automatic gain control).
  • Próteses programáveis - são próteses em que os ajustes de compressão e filtros são controlados digitalmente por meio de chips programáveis. Estas próteses possuem um pequeno conector, que permite ligá-las a uma unidade programadora, em que os diversos parâmetros são ajustados individualmente para cada paciente. Algumas próteses programáveis permitem a divisão da faixa de frequências sonoras em duas ou três partes, permitindo ajustar graus de compressão diversos em cada uma das partes.  
O tipo de prótese deve ser cuidadosamente escolhido em função das características de cada paciente e de sua perda auditiva. Atualmente existem computadores para programação e para a medida do ganho real da prótese, mensurado no interior do meato acústico externo do paciente. Essas mensurações tornam a indicação de próteses muito menos empírica do que no passado.

O efeito de oclusão, mencionado anteriormente, é um dos problemas encontrados na adaptação de próteses auditivas. Ele praticamente não existe nas próteses juxta-timpânicas, e pode ser eliminado em outros tipos de próteses através de um orifício de ventilação no molde. Este, contudo, reduz a amplificação, s ó podendo ser utilizado em pacientes com perdas auditivas pequenas. Após a adaptação o paciente necessita de graus variáveis de treinamento auditivo, e precisa ser avaliado periodicamente para avaliar seu desempenho.

Por Prof. Dr. Pedro Luiz Mangabeira Albernaz
Fonte Site Brasil Medicina

terça-feira, 23 de agosto de 2011

Chupeta e dedo: como lidar com esse hábito dos filhos

O dedo é ainda pior que a chupeta e um estudo revela que ambos podem afetar o desenvolvimento da fala das crianças


Você está com dificuldade de tirar a chupeta do seu filho? Saiba que não está sozinha. Muitos pais ficam apreensivos na hora de eliminar esse acessório da vida das crianças. Assim como chupar o dedo, esse hábito é aceitável até os 2 ou 3 anos. Crianças de 4 ou 5 anos já devem estar longe do dedo, da chupeta e também da mamadeira.

Cientistas da Universidade de Washington analisaram 128 crianças entre 3 e 5 anos e revelaram que aquelas que usaram chupeta por pelo menos três anos apresentaram mais chance de ter dificuldades para falar se comparadas àquelas que não tinham o hábito. O mesmo risco apareceu para quem chupava o dedo.

O estudo ainda mostrou que crianças que eram amamentadas por mais tempo (em torno de 9 meses) tinham menos chance de ter problema. De acordo com os pesquisadores, sucções fora do aleitamento materno, como chupeta, dedo e até mamadeira, podem ser prejudiciais para a criança, porém outras pesquisas são necessárias para comprovar esses resultados.

Para ajudar você a tirar as dúvidas mais comuns de quem está passando por essa fase de eliminar a chupeta e o dedo do dia a dia do filho, selecionamos algumas dicas sobre o assunto:

Toda criança adquire o hábito?
Alguns bebês sugam o polegar desde a fase intra-uterina. É um reflexo de sucção. A chupeta, oferecida pelos pais, pode ou não ser aceita pela criança, dependendo de sua necessidade de sucção. Para algumas, sugar o peito da mãe basta. Outras precisam mais, relaxam, acalmam-se com a chupeta. Mas não há aí relação com a personalidade futura do filho. Sugar é a forma que os bebês têm de se acalmar.

É pior chupar dedo? Por quê?
É pior, pois será mais difícil a criança abandonar o hábito. O bebê não pega a chupeta sozinho, mas pode colocar o dedo na boca mesmo dormindo.

Dedo ou chupeta fazem mal para os dentes e para a fala?
Sim. A posição da língua na boca fechada é atrás dos incisivos centrais superiores (os dois dentes da frente). Na sucção, ela fica abaixo da chupeta em movimento de vai-e-vem. Isso muda as relações entre os músculos da face, deixando o palato mais alto, os dentes mais protrusos e a musculatura não adequadamente desenvolvida. Mas leva tempo para acontecer. Uma criança de 5 anos que chupa dedo ou chupeta corre mais risco de ter todos esses problemas.

Quando o hábito deve ser interrompido?
Por causa dos problemas citados, é aceitável manter esses hábitos até no máximo os 3 anos, quando ainda é fácil corrigi-los. A maioria das crianças abandona o uso da chupeta nessa época. A sucção do dedo pode demorar mais, por estar muito acessível. Porém, o melhor é interromper esses vícios o mais cedo possível. Quando prolongados demais, o risco de problemas bucais aumenta. Há casos em que apenas a colocação de aparelhos nos dentes permanentes poderá corrigi-los.

Qual é a melhor maneira de fazer a criança largar?
Não tem um jeito fácil de deixar hábitos. Mas colocar substâncias ruins no dedo ou na chupeta está fora de questão. O melhor é proporcionar à criança um ambiente tranqüilo, seguro e elogiá-la, sem exageros, sempre que não estiver sugando. Não convém também fazer chantagens (oferecendo prêmios para que a criança pare com a mania), ameaças ou comparações do tipo "você fica feia quando chupa o dedo". O ideal é nem mencionar muito o hábito, para que não ganhe proporção além da conta. O recomendável é levar a criança a abandonar o dedo ou a chupeta aos poucos, apresentando-lhe outras opções de distração que usem as mãos. No caso da chupeta, é possível tomar algumas medidas. Não deixe mais de uma chupeta acessível à criança e evite mantê-la presa à sua roupinha para que não seja usada com freqüência. Restrinja o uso apenas para a hora de dormir e retire a chupeta logo que a criança adormecer. Não mergulhe a chupeta em substâncias doces nem a ofereça toda vez que a criança manifestar insatisfação e desejo.

Há circunstâncias mais favoráveis à retirada?
Não é boa hora retirar a chupeta se a criança estiver passando por alguma situação nova, de mudança, em casa ou na escola. Uma coisa de cada vez. Mas o nascimento de um irmão, por exemplo, não é justificativa para que o mais velho fique com chupeta (ou mamadeira) pelo período que o outro estiver usando. Dessa forma não se está protegendo, mas prejudicando o mais velho em seu desenvolvimento.

Quando a criança reage muito mal à retirada da chupeta, é aconselhável devolvê-la?
Deve-se limitar o uso da chupeta gradualmente, desviando a atenção para outros objetos, dando mais apoio e segurança ao filho. Mas chorar é a reação normal e esperada de qualquer criança. Nada agradável, mas esperada. Os pais precisam estar de acordo com o momento da retirada. Porque, se um dos dois não está convencido, provavelmente o hábito vai permanecer. É comum ter pena da criança como se ela estivesse perdendo algo bom, importante. Mas, se ela não pode nunca chorar sem causar extrema ansiedade na família, provavelmente à chupeta se tornou importante para os pais. E um filho considera importante, estressante, perigoso, amedrontador o que os pais acham.

Que reações a criança costuma ter na hora de abandonar o dedo ou a chupeta?
Um pouco de ansiedade, insegurança, birra e possivelmente acordará um pouco mais à noite. É comum. Mas, em geral, dura pouco.

É recomendável oferecer a chupeta para a criança deixar de chupar o dedo ou permitir que pegue o dedo ao abandonar a chupeta?
Pegar o dedo após a chupeta não é comum, mas, tanto em uma situação quanto na outra, não há vantagem em trocar de hábito. Melhor seguir firme nas tentativas, nunca castigar, dar proteção e muito reforço positivo, além de distrair a criança com outras opções. Ela mesma vai se encantar ao descobrir que há coisas mais interessantes no mundo do que chupar o dedo ou a chupeta.

Por Ana Paula Pontes e Patrícia Cerqueira
Fonte Site Crescer

A importância da interação entre mãe e bebê

Estímulos maternos no primeiro ano de vida garantem um desenvolvimento melhor ao longo da infância e da adolescência


Você já parou para pensar no quanto seu filho aprende no primeiro ano de vida? E no quanto o papel da mãe é fundamental nessa etapa? Isso é o que revela uma pesquisa realizada no Canadá, conduzida conjuntamente pelas universidades de Montreal e de Minnesota (EUA).

O resultado do estudo, que contou com cerca de 80 mães e seus bebês de um ano de idade, apontou que a interação com a mãe no primeiro ano de vida ajuda a criança a desenvolver melhor suas funções cognitivas, como a habilidade de controlar impulsos e de se lembrar de coisas.

Mais do que isso, os pesquisadores descobriram que também a maneira com que a mãe brinca com a criança é importante para o seu crescimento. As habilidades cognitivas do bebê se desenvolvem melhor, por exemplo, quando a mãe atende prontamente aos pedidos de ajuda de seu bebê, conversa sobre os gostos, pensamentos e memórias de seu filho durante uma brincadeira, ou encoraja que o pequeno organize boas estratégias para solucionar seus problemas.

Outro estudo vai além e sugere que a maneira como as mães interagem com os bebês até 1 ano de idade interfere no comportamento da criança entre 4 e 13 anos. Cientistas da universidade de Chicago analisaram 1.800 crianças e avaliaram suas reações em vários tipos de atividades e os estímulos que recebiam da mãe. O resultado indicou que aquelas estimuladas no primeiro ano de vida apresentam baixo risco de ter problemas de comportamento, como bullying, mentiras, desobediência, entre outros.

Há quem pense que a criança não aprende nada quando ainda não tem 1 ano de vida. “O enorme trabalho neurológico e químico que um bebê faz nos primeiros 12 meses não acontecerá dessa maneira em nenhuma outra fase de sua vida”, diz Rita Calegari, chefe do setor de Psicologia do Hospital São Camilo.

Aquele bebê, que parece não interagir com os pais nos primeiros dias, logo começa a reconhecer as pessoas, a falar, andar e mexer em objetos. Todo o aprendizado nessa etapa se refletirá na sua forma de se relacionar com o mundo. E os cuidados maternos, cujos estímulos vão desde uma troca de fralda ou da amamentação, por exemplo, vão definir seus valores, caráter, nível de tolerância.

“A mãe precisa suprir as necessidades da criança o suficiente e entender também que o exagero é tão nocivo quanto a falta de cuidado”, diz Rita. A psicóloga enfatiza que, atender aos desejos das crianças de maneira equilibrada, permite educá-las mais felizes, satisfeitas e menos ansiosas. Por outro lado, aquelas que sofrem violência física no dia-a-dia carregarão essa atitude como um valor.

Esse carinho tem de estar presente também na pessoa que fica com a criança enquanto os pais estão trabalhando. “É preciso que, muito mais do que os cuidados básicos, como dar banho ou a papinha na hora certa, a criança seja estimulada mesmo longe dos olhos dos pais, seja com uma música, um brinquedo ou um banho de sol”, completa a especialista.

Por Ana Paula Pontes e Drielle Sá
Fonte Site Crescer

sexta-feira, 19 de agosto de 2011

Linguagem e Infância: a Literatura Infantil no Processo de Desenvolvimento da Criança Pequena



RESUMO

Este trabalho apresenta, como questão central, a importância da Literatura Infantil para o desenvolvimento da criança pequena. Partiu da concepção ampliada da linguagem, especificando a sua característica como constituidora do sujeito histórico, cultural e social e a concepção da infância enquanto categoria social. Utilizou, como arcabouço teórico, aspectos do trabalho de Vygotsky (1994) e Bakhtin (2000), além de outros autores com os quais dialogamos sobre a Literatura Infantil. Os resultados indicaram que a contação e o reconto de histórias de Literatura Infantil revelam ser uma atividade interativa, potencializadora da linguagem da criança como espaço de recuperação do sujeito ator e autor de seu desenvolvimento. As crianças, enquanto interagem no mundo dos símbolos e da fantasia, expressam suas opiniões. No que diz respeito à escuta da “voz da criança” e à interação criança-criança os dados revelaram que pouco foi dado importância pela professora.

Esta pesquisa tem como tema a linguagem na infância, apontando como questão central a importância da literatura infantil para o desenvolvimento da criança pequena, considerando a literatura infantil como instrumento de mediação para o desenvolvimento da criança participativa e crítica deste processo de formação.

Reconhecendo a relação recíproca entre a linguagem e a interação, a Instituição de Educação Infantil apresenta-se como um lócus significativo de valorização de práticas interativas que potencializam o desenvolvimento discursivo das crianças. Surgem, então, inquietações que nos levam a indagar: Qual é o lugar que a linguagem, enquanto espaço de recuperação do sujeito ativo, ocupa na prática pedagógica das professoras durante a narrativa de histórias de Literatura nas Instituições de Educação Infantil? A professora tem dado importância à escuta da “voz da criança” e à interação criança-criança no momento da contação de histórias infantis? Como as atividades de contação de histórias infantis ajudam no desenvolvimento da criança?

Com base no pressuposto de que a interação entre as crianças se constitui no elemento mobilizador, catalisador e construtor da linguagem infantil e considerando a Literatura Infantil como atividade interativa potencializadora do espaço de recuperação do sujeito ator e autor de seu desenvolvimento, definimos como objetivo principal deste trabalho analisar como e de que forma a Literatura Infantil enquanto atividade pedagógica mediada pela professora contribui para o desenvolvimento da criança pequena. Para tanto, buscaremos compreender a dinâmica interativa e dialógica entre as crianças durante a estratégia das professoras de contar histórias.

LINGUAGEM E INTERAÇÃO SOCIAL: um diálogo com Vygotsky e Bakhtin

A linguagem é um instrumento mediador entre as relações sociais da criança com o ambiente em que vive, onde estão presentes conteúdos socialmente construídos e historicamente sedimentados que expressam valores e regras culturais, que gradualmente são interiorizados e modificados pela criança. Ao mesmo tempo em que a criança se sociabiliza durante as ações que realiza, também vai construindo suas subjetividades e seus significados acerca do mundo em que vive.

Para Vygotsky e Bakhtin, a linguagem é um instrumento mediador e organizador essencial para a constituição da consciência e do sujeito. No diálogo com o outro, durante as relações sociais, é possível estabelecer interações que promovam a formação da consciência do indivíduo, que por sua vez, resultam de construções sobre a realidade no interior da vida mental do indivíduo.

A concepção de linguagem infantil apresentada neste trabalho reconhece a sua característica como constituidora da criança enquanto ser social, histórico e cultural. Jobim e Souza (1994, p. 21) traz uma discussão sobre o papel libertador da linguagem, denuncia o sistema normatizador presente em nossa sociedade que rechaça a possibilidade de permitir desde muito cedo às crianças a sua liberdade de ser, construir, participar e de expressar, daí a necessidade de se (re) pensar o lugar da linguagem enquanto se propõe uma educação de qualidade para as crianças pequenas.

Partimos do pressuposto de que o desenvolvimento infantil não pode ser reduzido a um aspecto natural acompanhando estágios sequenciais. A perspectiva dialética que fundamenta nosso estudo nos afasta da noção “naturalista” de desenvolvimento que contempla a criança como um ser incompleto, um “vir a ser”, ou seja, o que ainda não é. Ao contrário da visão naturalista, concebemos o desenvolvimento da criança como o processo que vai sendo construído pela própria criança durante as interações com “outros” em seu universo social.

A importância da interação social e a concepção da linguagem como espaço de recuperação do sujeito como ser histórico e social é o ponto em que o pensamento de Vygotsky encontra-se com o de Bakhtin. Tomando como referência este ponto de confluência é lícito afirmar que, segundo estes autores, o desenvolvimento da criança tem sua origem durante a interação social a partir de uma relação mútua entre o plano individual e o plano social, ou seja, o desenvolvimento linguístico infantil só pode ser entendido a partir de suas relações com o outro.

Para Bakhtin a produção da linguagem é sempre dialógica, as múltiplas vozes (polifonia) e múltiplos sentidos (polissemia) se encontram no discurso de um grupo social, não permitem uma verdade única em suas falas, mas “verdades” presentes nas diversas interações sociais que por muitas vezes vão sendo lembradas. Desse modo, esclarece que os sentidos são construídos a partir das múltiplas vozes presentes na interação verbal o que caracteriza uma concepção interacionista da linguagem.

As práticas discursivas estabelecidas entre as crianças, em geral, são mediadas pela professora, que por sua vez precisa estar atenta às singularidades de cada criança, considerando os significados dados por cada uma delas. O que implica que a professora deve perceber a diversidade de experiências que cada uma traz do mundo social e cultural ao qual pertence.

A partir dessas considerações, este estudo corrobora a idéia de que é num contexto de diversidades que se constitui a importância da interação social, onde a linguagem é reconhecida como o instrumento mediador entre as crianças e o espaço de recuperação do sujeito questionador e participante de decisões. As crianças partilham dinamicamente do processo de construção de valores e da manifestação da cultura infantil explorando a verdadeira liberdade de expressão, enquanto vivem intensamente as suas “infâncias”.

LITERATURA INFANTIL: a contação e o reconto de histórias

Historicamente, a arte de contar histórias era vista com status inferior em relação à escrita; por outro lado as lendas e os contos foram sendo disseminados através da contação de histórias. Os povos mais antigos se reuniam ao redor de fogueiras, enquanto contavam as suas histórias e, assim, disseminavam a sua cultura e os seus costumes. Reunir-se para ouvir a contação de histórias, cada vez mais, passou a ser uma atividade dos mais simples, o que explica ter sido, por tanto tempo, uma prática tão rechaçada pela sociedade.

A Literatura Infantil surge dos contos populares, que se tornaram o bojo de inspiração de muitos autores atualmente reconhecidos. Arroyo (1990) comenta que esta é a principal razão de se considerar a contação de história a gênese da Literatura.

Amarilha (1997) defende que o acesso à contação de histórias promove condições de a criança desenvolver sua habilidade discursiva, quando lhe é conferida a possibilidade de recontar a história, desenhar e identificar os personagens e outras formas de representação. Enquanto lhes conta a história, o ouvinte (a criança) é levado a comportar-se com tão grande fascínio, que vai sendo envolvido para o livro e para o silêncio que, segundo a autora, são comportamentos comuns somente aos que conseguem exercer com o livro grande intimidade.

A arte de contar histórias implica algumas atenções, primeiramente na escolha daquilo que se vai contar. Conforme Coelho (2000, p. 153), a Literatura Contemporânea tem considerado o ato de contar como “o ato de criar através da palavra”. Para esta autora, há o narrador dialógico (ou dialético), a sua característica marcante é provocar, dirigir-se ao que escuta, mas também é chamado a participar, a interagir com o texto, sendo este que conta.

[...] um eu-narrador que se dirige continuamente a um tu, a alguém que, entretanto, não se faz ouvir na superfície da narrativa, mas de certa forma a provoca. (COELHO, 2000, p. 68)

Para Abramovich (1993, p. 23), “O ouvir histórias pode estimular o desenhar, o musicar, o sair, o ficar, o pensar, o teatrar, o imaginar, o brincar, o ver o livro, o escrever, o querer ouvir de novo (a mesma história ou outra). Afinal, tudo pode nascer dum texto!” Essa perspectiva deve estar presente na metodologia da professora que utiliza as histórias de Literatura Infantil em sua atividade com a criança, estimulando-a a imaginar e a se envolver.

A professora, ao contar uma história, deve envolver a criança e fazê-la identificar-se com os personagens; ao interagirem com as histórias, as crianças passam a despertar emoções como se estivessem vivendo o que ali lhe é narrado, os sentimentos apresentados permitem que a criança, através da imaginação, exercite a capacidade de resolução de situações que vive em seu cotidiano.

Coelho, Betty (1991) recomenda que, após contar a história, a criança deve ser estimulada a recontá-la, e, para tanto, é preciso que se dê tempo para pensar e permita que ela possa dar outro final à história, altere, modifique. Um exercício para desenvolver nas crianças o poder de imaginação e de observação. As pausas que a criança faz refletem o momento em que o interdiscurso ouvido passa gradativamente a fazer parte, mais tarde, do intradiscurso. Quando recontam, as crianças estabelecem uma relação entre o fantasioso e a realidade e demonstram interesse durante essa atividade.

[...] o interesse na repetição e na reconstrução de uma narrativa é compatível com o nível de construção da linguagem. Ela permite a passagem das primeiras formas de pensamento às formas que vão se estabelecer em um segundo momento quando se completa a aquisição da linguagem. (SILVA, 2007 apud BONNAFÉ, 2001, p. 116).

Segundo Coelho, Betty (1991), a criança com 3 a 6 anos encontra-se na fase mágica, fase marcada pelo interesse, pelo faz-de-conta e expectativas de que tudo se resolve a partir de toques mágicos. Este é um período em que a criança solicita o “conte outra vez”, o tempo das repetições e interesse por histórias de fadas, pelo elemento maravilhoso que possui.

Silva (2007, p. 61) sobre o tema contar/recontar, diz o seguinte:

Desse modo, há não só uma continuidade na ação, mas também uma reversibilidade de papéis. Inicialmente, o professor-contador de histórias detém o poder do saber e de organizar em objetivos em estratégias, definindo o que, como, quando e onde contar. Na segunda etapa, o sujeito da ação é o aluno e não mais o professor. Por mais que os comandos sejam os mesmos em um universo de sala de aula, em qualquer faixa-etária lida-se, querendo ou não, com o elemento surpresa, que é a singularidade de cada pessoa. Nesse caso, manifesto na sua forma de perceber e de captar o mundo. Suas experiências atreladas ao contexto imediato, ou seja, a intertextualidade, que aqui é bastante subjetiva, expressa-se na fala ou na escrita do recontador.

A atividade de contar e de recontar auxilia a criança a desenvolver e reorganizar seus esquemas e permite que ela construa seus sentidos enquanto expõe e desenvolve habilidades significativas para o seu desenvolvimento.

MÉTODO

Esta pesquisa foi realizada na Escola Interativa (nome fictício), da rede particular da cidade de João Pessoa, na Paraíba. Utilizamos o método de análise das interações dialógicas das videogravações divididas em dois momentos: no primeiro, a contação da história pela professora para as crianças; em um segundo momento, as crianças recontam a história.

A análise dos dados colhidos durante a atividade com a Literatura Infantil procurou destacar os seguintes pontos: a linguagem enquanto espaço de recuperação do sujeito, a valorização da interação e da escuta da “voz da criança” e a Literatura Infantil no processo de desenvolvimento da criança.

RESULTADOS

Os dados obtidos em nossa pesquisa permitem inferir que a Literatura Infantil pode contribuir para o processo de desenvolvimento da criança, quando a atividade de contar e recontar histórias transcende à relação conformadora da criança e constrói uma dinâmica interativa e emancipadora com ela. A linguagem aparece como instrumento mediador durante os movimentos interativos com as crianças e com seus pares; no entanto, a linguagem oral não é a única maneira de a criança se expressar; em seu universo, percebe-se o gesto, risos, expressões faciais, movimentos corporais que se constituem como as múltiplas linguagens dela. Durante a atividade de contar e recontar a história, pouco espaço foi dado à escuta da “voz da criança” e à interação criança-criança. As crianças sempre que interagem revelam as suas emoções, o entusiasmo pela história e demonstração de afeto entre si. Os resultados em geral indicam que a professora não tem reconhecido a linguagem enquanto espaço de recuperação do sujeito. Este estudo pretende avançar as discussões acerca da concepção de linguagem em sua característica enquanto espaço de recuperação e a visibilidade que as professoras têm dado às crianças durante as práticas pedagógicas em Instituições de Educação Infantil.

Autora Simone Alves Nepomuceno Lemos
Fonte Revista Cientifica Aprender


REFERÊNCIAS
  •  ABRAMOVICH, F. Literatura Infantil. São Paulo: Scipicione. 1993.
  • AMARILHA, Marly. Estão mortas as fadas? Petrópolis: Rio de Janeiro: Vozes. 1997.
  • ARROYO, Leonardo. Literatura Infantil Brasileira – ensaios de preliminares para sua história e fontes. São Paulo: Melhoramentos, 1968.
  • BAKHTIN, Mikhail Mikhailovitch. (Voloshinov, V. N.). Marxismo e filosofia da linguagem. 6a ed,Tradução: Michel Lahud e Yara Frateschi Vieira. S. P.: HUCITEC, 2002.
  • _________. Estética da criação verbal. S. P.: Martins Fontes, 1991.
  • COELHO, Betty. Contar história: uma arte sem idade. São Paulo. Ed. Ática. 1991
  • COELHO, Nelly Novaes. Literatura Infantil: teoria, análise, didática. – 1. ed. São Paulo: Moderna, 2000.
  • JOBIM E SOUZA, Solange. Infância e Linguagem: Bakhtin, Vygotsky e Benjamin – Campinas, SP: Papirus, 1994.
  • SILVA, Fabiana Sena da Silva; VILAR, Socorro. A fantasia dos contos de fadas no cotidiano da sala de aula. Centro de Educação da UFPB. 2002.
  • VYGOTSKY, L. S. Pensamento e Linguagem. São Paulo. Martins Fontes, 1994.
  • VYGOTSKY, L. S. A Formação Social da Mente. São Paulo. Martins Fontes, 1991.

Chupetógrafo: você já ouviu falar nele?

O acessório, objeto de estudo da professora Eloísa Lima, da UFRJ, serve para compreender como se dá a aquisição de linguagem pelas crianças ainda antes de aprenderem a falar




Chupetógrafo. É com base em um acessório com esse nome diferente que a professora Eloísa Lima, do departamento de Neurolinguística da UFRJ (Universidade Federal do Rio de Janeiro), desenvolveu sua tese de mestrado. Há 30 anos ela atua no ensino de inglês para crianças (hoje é responsável pela escola Dice, no Rio de Janeiro), e, ao buscar um jeito de trabalhar a aquisição de uma segunda língua “que não fosse por uma mera repetição de palavras”, ela se deparou com o chupetógrafo.

O acessório surgiu na década de 1980 como uma invenção do linguista francês Jacques Mehler, pesquisador da Universidade de Triestre, na Itália. Na época, ele fez uma pesquisa com bebês e descobriu que desde o nascimento eles já identificam diferentes idiomas a partir do ritmo de cada um – e não pelo significado. Para chegar a essa conclusão, ele montou uma máquina que registrava a sucção da chupeta por um bebê. O pesquisador partiu do princípio que o ato de sugar é uma resposta a alguma emoção da criança – tanto que, ao nascer, um dos primeiros reflexos é o da sucção. Em entrevista à CRESCER, Eloísa fala como essa descoberta influenciou seus estudos. Confira.

CRESCER: Como você chegou aos estudos de Jacques Mehler e ao chupetógrafo ?
ELOÍSA LIMA: Queria entender como se dá aquisição de linguagem por crianças pequenas e, para isso, precisava saber em que momento os bebês adquirem as consoantes, que aliás são mais significativas para compreender um vocábulo. É possível ler uma palavra só com base nelas. E para fazer esse trabalho me baseei na experiência de Mehler.

CRESCER: E foi necessária alguma adaptação do aparelho?
EL: Sim, nós queríamos uma tecnologia mais moderna e menos invasiva. Seria difícil ter mães voluntárias com um aparelho tão grande, como de ressonância magnética, produzido pela equipe de Mehler. O que fizemos foi acoplar à chupeta um caninho de vinil com um microfone, o qual envia para um programa de computador os registros sonoros que são identificados em um gráfico. Avaliamos cerca de 30 crianças de até 6 meses.

CRESCER: Por quanto tempo elas ficavam chupando chupeta?
EL: Os bebês ficavam de um a dois minutos com o aparelho, enquanto ouviam uma palavra diferente por dia em diferentes idiomas: português, inglês e tcheco.

CRESCER: O que essa experiência mostrou?
EL: Que as crianças assumem as consoantes a partir do segundo mês de vida. O que mostra que o período de pré-fala é o mais importante da linguagem. Crianças que até os 7 anos aprendem um segundo idioma têm mais chances de falar a nova língua como um nativo. A partir dessa idade, porém, a criança já é considerada um ‘adulto’ para a aquisição da língua. Ou seja, ela já vai carregar o acento de sua língua materna e, por mais espontâneo e fluente que seja, vai fazer uma tradução em seu cérebro. Não estou dizendo que a partir de 7 anos a pessoa não seja mais capaz, mas há uma série de limitações durante a aquisição de uma nova língua.

CRESCER: Essa limitação varia entre as pessoas ou é assim como todo mundo?
EL: Não é uma limitação, é um fechamento de aquisição. Nosso cérebro trabalha com várias interfaces, sendo que uma auxilia a outra no funcionamento. Mas existem determinadas aquisições do ser humano – por exemplo, o fato de caminharmos com duas pernas e não com quatro como um cachorro – que dependem de um período crítico para acontecer. É uma janela de oportunidades, se você não passar por esse momento, pode carregar uma sequela.

CRESCER: Você acredita que o chupetógrafo seria só um instrumento de pesquisa ou teria um outro uso?
EL: Poderia auxiliar no diagnóstico de problemas que afetam a linguagem – como a afasia (perda do poder de expressão pela fala, pela escrita ou por sinalização por causa de uma lesão cerebral) ou autismo. Ao perceber que uma criança não se interessa pelo que vê ou ouve é possível suspeitar de que tem algo errado e que deve ser investigado desde cedo.

CRESCER: Mas o seu objetivo principal é sedimentar o porquê de começar cada vez mais cedo o aprendizado de uma segunda língua, certo?
EL: Sim, meu foco é como trabalhar uma segunda língua com crianças pequenas. O que temos de mostrar é que no primeiro ano de vida, considerado o período pré-fala, a criança não representa oralmente mas já tem a linguagem em funcionamento. As pessoas costumam não entender isso, acham que não faz diferença conviver tão cedo com outros idiomas. Há linhas da área da pedagogia que só consideram o ser humano pensante a partir do momento em que ele fala e “deleta” o ano em que não fala. Mas esse justamente acaba sendo o período mais importante.

 Por Cristiane Rogerio e Simone Tinti

quinta-feira, 18 de agosto de 2011

A audição do bebê


Um diagnóstico precoce aumenta as chances de resolver problemas auditivos


Lá pelo terceiro mês de gestação, os bebês já percebem sons. Tão precoce, a audição é, por isso, um poderoso canal de comunicação após o nascimento. Falhas auditivas devem ser notadas quanto antes. Os sinais manifestam-se no comportamento do bebê como na criança que não se interessa por brinquedos que fazem barulho ou os manipula de forma muito barulhenta. Isso também vale para aquela que, entre os 12 e os 18 meses, não aumenta seu vocabulário ou não atende quando chamada pelo nome. Veja como é esperado que seu filho reaja aos sons em cada fase:

Até 3 meses
Acorda ao ouvir um barulho forte.

Dos 3 aos 6 meses
Movimenta os olhos e se vira na direção de vozes.

Entre 6 meses e 1 ano
Balbucia sílabas simples, como "mamã", tentando reproduzir o que escuta.

De 1 a 2 anos
Fala palavras comuns, interagindo com os adultos.

É lógico que cada um se desenvolve no seu tempo. Mas, se você notar uma constante falta de reação, consulte um especialista. Na maternidade, seu filho já pode fazer o teste da orelhinha, que confere o bom funcionamento do sistema auditivo.

O desenvolvimento da audição

Na 13a. semana de gestação, um bebê normal percebe sons por vibração na pele. Por volta da 17a. semana, consegue ouvir um pouco do que se passa dentro e fora do corpo da mãe. Na 20a. semana, distingue a voz materna. Ao nascer, a audição está pronta, mas levará alguns meses para o sistema neurológico amadurecer, permitindo que o bebê demonstre reações ao som, por exemplo virando o rosto para olhar quem fala.

Por Mônica Brandão
Fonte Site Crescer

O desenvolvimento da fala


Quando as crianças começam a ensaiar as palavras, o diálogo com elas fica muito mais gostoso e animado


É preciso estímulo e paciência, pois o aprendizado das crianças, dos sons simples até as frases completas com argumentação coerente, demora cerca de quatro anos. Tire as dúvidas sobre esse processo e saiba como incentivar seu filho.

Como o bebê aprende a falar?
Ouvindo conversas, tentando imitar os sons, praticando e dando significado a cada palavra. Por isso, não é aconselhável conversar de forma infantilizada com a criança, pois ela ficará sem referência do que é correto. Também não é o caso de corrigi-la a cada tropeço. Basta repetir o que foi dito do jeito certo.

De que forma evolui a fala?
Entre 2 e 4 meses, o bebê pronuncia sons guturais. Lá pelo oitavo mês, é capaz de dizer sílabas simples, que só exigem a movimentação dos lábios, como "ma" e "pa". Com cerca de 10 meses, essas sílabas se tornam mais elaboradas e ganham significado: papá é a comida, por exemplo. Por volta de 1 ano e meio, surgem pequenas frases com duas ou até três palavras. Aos 3 anos, a criança consegue manter uma conversação. Seu vocabulário pode alcançar cerca de 900 palavras.

Que estímulos são bons?
O principal é conversar muito com o bebê desde o nascimento. Ler livros para as crianças também é muito importante. As historinhas, além do estímulo que representam à imaginação, aumentam o vocabulário e a curiosidade sobre a linguagem. Cantar é outro bom estímulo. Leva a criança a perceber as sílabas, o ritmo e a entonação das palavras.

E se a criança demora a falar?
Se ela não diz nenhuma palavra até os 2 anos, talvez exista algo errado. Um especialista poderá analisar se o problema é apenas físico ou se indica falhas na audição ou nos processos cognitivos do cérebro. Quanto mais rápido for feito o diagnóstico, menores serão os prejuízos para a comunicação.

Por Mônica Brandão
Fonte Site Crescer

Solte a língua

Língua presa pode não ser bem o que você imagina. Saiba mais sobre ela


O que é língua presa?
O que as pessoas acham que é língua presa, na verdade, chama-se ceceio. Trata-se de uma alteração comum e acontece quando a criança tem uma projeção frontal da língua, pronunciando o “s” com ela fora da boca, por exemplo. Já a língua presa é um problema congênito, que ocorre quando o frênulo da língua (aquela prega popularmente conhecida como “freio”) limita os movimentos dela.

Que problemas podem acarretar?
Com a língua presa, a criança não consegue ser amamentada direito. Depois, tem dificuldades na fala e na mastigação, pois a língua não consegue levar o alimento de um lado para o outro da boca. Já no caso do ceceio, ela pode cuspir saliva ao pronunciar algumas letras e ter problemas dentários.

Como é o tratamento?
Até os 5 anos, é normal a criança ter ceceio, e com o tempo o problema tende a desaparecer sem precisar de terapia. Já a língua presa precisa de uma cirurgia simples, com o dentista.

Irene Queiroz Marchesan é fonoaudióloga e membro do Comitê de Motricidade Orofacial da Sociedade Brasileira de Fonoaudiologia
Por 
Tamara Foresti, Thais Lazzeri e Vanessa Kopersztych

 Fonte Site Crescer

Desenvolvimento: Barulho pode prejudicar fala do bebê

Estudo americano comprova que ambiente caótico pode dificultar o aprendizado da criança


Se o seu bebê costuma ficar quietinho enquanto você conversa ao telefone, os irmãos brincam na sala ao lado, seu marido assiste televisão e o cachorro não para de latir, fique atenta. Estudos comprovam que crianças expostas a ambientes muito barulhentos podem apresentar dificuldades no desenvolvimento da fala.

De acordo com pesquisadores da Universidade de Purdue, nos Estados Unidos, casas onde a variedade de sons emitidos ao mesmo tempo é grande costumam funcionar como armadilhas auditivas para crianças que estão prestes a aprender a falar. Para George Hollich, psicólogo e diretor do Laboratório Infantil de Fala da Universidade de Purdue, ainda mais alarmante é o fato do “som de fundo” não precisar nem ser muito alto. Os resultados do estudo comprovam que mesmo que todos os sons estejam no mesmo volume, a criança ainda encontra dificuldades de compreensão.

Para falar é preciso ouvir e quando a audição está prejudicada por uma série de ruídos, se comunicar fica mais difícil. Hollich comenta que uma criança que está começando a falar ainda não sabe distinguir uma palavra da outra, onde ela começa ou termina e, por isso, quando é bombardeada por várias palavras ao mesmo tempo ela não consegue entender objetivamente o que estão dizendo.

A fonoaudióloga Rosana Valentim acrescenta que o barulho também compromete a concentração da criança, que durante os primeiros anos de vida é naturalmente escassa. “Além de ser mais difícil de um bebê entender o que as pessoas falam quando há barulho intenso, a capacidade dela se ater à informação que realmente quer absorver fica reduzida. É preciso lembrar sempre que a criança não está aprendendo a falar somente quando um adulto se direciona a ela. Ela está absorvendo informações o tempo todo”, explica.

Contato Visual

Uma das soluções para essa mistura sonora é o contato visual. Durante a pesquisa os cientistas americanos comprovaram que a interpretação do que está sendo dito fica mais fácil se o contato visual entre ambas as partes for mantido. Com o estudo os pesquisadores concluíram que as crianças, apesar de barulhos externos, conseguem se concentrar mais quando a pessoa que se dirige a ela está a sua frente, olhando em sua direção – e isso facilita o desenvolvimento da fala.

Fonte Site Crescer
Por Aline Ridolfi

Disartrofonia: Uma Visão Fonoaudiológica


Introdução e Revisão Bibliográfica

As alterações do controle motor da voz, fala e deglutição associados aos déficits neurológicos foram sendo descritos desde o século passado na literatura neurológica, mas na literatura fonoaudiológica este estudo teve seu início há aproximadamente cinco décadas.

As primeiras definições consideravam a disartria como uma alteração da articulação da fala. Em 1911, Gutzmann questiona esta definição, considerando-a imprecisa e inadequada pelo fato de a disartria poder abranger não apenas alterações articulatórias, mas também a respiração, a qualidade vocal, a freqüência e a velocidade da fala (Berry, 1784).

Placher (1949) sugere o termo disartrofonia como mais apropriado, devido ao transtorno de tônus e dos movimentos dos músculos fonadores, secundários à lesão do sistema nervoso.

Brain a conceitua como um transtorno da articulação, ou seja, da junção motora mediante a qual as palavras se convertem em sons, por meio de movimentos de lábios, língua, palato, cordas vocais e dos músculos que intervêm na fonação.

Casanova (1992) afirma que a disartria pode ser definida como o transtorno da expressão verbal causado por uma alteração no controle muscular dos mecanismos da fala. Compreende as disfunções motoras da respiração, fonação, ressonância, articulação e prosódia.

Consideramos a disartria defeito na emissão dos sons, existindo dificuldade em sua articulação e, também, na conexão de sílabas e palavras, sendo esta dificuldade gerada por lesões do sistema nervoso central, geralmente, dos centros bulbares que comandam o mecanismo fonador (Dulce Lemos, 1972).

Segundo Metter (1991), anomalias no mecanismo da fala conduzem a diversos tipos de disartrias. A natureza da anomalia depende das partes do mecanismo da fala afetadas e da natureza da afecção. Pode ser descrita examinando cada um dos únicos sistemas da fala: respiração, fonação, ressonância, articulação e prosódia. MASSON (in apud) - Williams & Wilkins (1997), "Alterações motoras da fala que são conseqüência de transtornos centrais e/ou periféricos do controle muscular".

Hecaen e Angelergues (1965) definem a disartria como "uma dificuldade da fala, resultado de uma paralisia ou de uma ataxia dos músculos dos órgão da fonação".

Perelló (1995) defende a idéia de que indivíduos que apresentam quadros disártricos mostram alterações, em graus variados de severidade, de articulação e de mobilidade dos órgão fonoarticulatório gerando dificuldade na mastigação, na deglutição no sopro e outras funções realizadas pelas estruturas estomatognáticas.

Os centros cerebrais reguladores dos movimentos fonoarticulatórios são: cortes cerebrais, cerebelo, gânglios da base e unidades motoras. O córtex cerebral é a maior estrutura para o processamento da fala e da linguagem. Entre as regiões corticais envolvidas no controle dos movimentos fonoarticulatórios temos: área 4 (córtex motor primária); área 3,1,2, (córtex somatossensorial; área 44 (área de Broca); área 6 (medial - córtex pré-motor e área motora suplementar; área 6 (lateral - córtex pré-motor). O cerebelo é um centro altamente desenvolvido e especializado do controle do movimento, estando envolvido em vários estágios do processo de movimento fonoarticulatório. O córtex cerebelar recebe input sensorial da língua, lábios, mandíbula, laringe e sistema auditivo, e rapidamente integra esta informação para sua contribuição no processo motor fonoarticulatório. Os gânglios da base (núcleo caudado, putamen, globo pálido, substância negra e núcleo subtalâmico), abrangem a maior parte do sistema motor extrapiramidal, com contribuições especializadas no controle do movimento da fala.
Toda ação efetua-se por uma via motora final comum constituída por neurônios motores principais (alfa) da ponta anterior da medula. O lado um desses neurônios comanda um certo número de fibras musculares próprio; o conjunto formado pelos neurônios alfa e as fibras musculares dependentes constituem uma unidade motora. Os núcleos importantes no córtex motor fonoarticulatório são: núcleo ambíguo (medula); núcleo facial, não motor trigeminal, não hipoglossal (localizados no tronco cerebral).

Os axônios dos motoneurônios projetam-se para as fibras musculares associados aos nervos trigêmeo (V par), facial (VII), hipoglosso (XII), vago (X), acessório (XI), glossofaríngeo (XI) e respiratório.

Etimologia, Aspectos Gerais e Classificação

Uma disartrofonia pode ser secundária a um processo traumático craniocervical, a uma tumoração benigna ou maligna do cérebro, cerebelo ou tronco encefálico, a uma lesão vascular encefálica, a doença infecciosas, metabólicas, tóxicas ou degenerativas do sistema nervoso ou do muscular e, inclusive, fazer parte dos complexos sintomas ocasionados por uma anomalia nervosa congênita.

O local da lesão pode ser o Sistema Nervoso Central e/ou periférico. Podemos ter, quanto à severidade, disartrofonia discreta, moderada, severa ou extrema. No que se refere ao curso natural, é possível encontrar disartrofonia desenvolvimental, estável, degenerativa ou exacerbantes.

Disartrofonias Flácidas

Referem às causadas pelos distúrbios neuromusculares periféricos. Dois maiores grupos de anormalidades precisam ser considerados com relação à disartria flácida. Primeiro são os distúrbios que afetam uma estrutura única ou específica dentro do aparelho da fala. Muito caracteristicamente estes representam neuropatias, tal como uma lesão traumática ou pós-cirúrgica no nervo recorrente laríngeo. A natureza da mudança na fala depende de em qual nervo, da natureza do dano e da extensão da disjunção. Em muitos aspectos neuropatias causam disartrias similares às causadas por danos estruturais, na mesma estrutura inervada pelo nervo.

O segundo grupo de anormalidades está associado com doença difusa e inclui distúrbios das junções neuromusculares (ex: miastenia grave), neuropatias periféricas e paralisias bulbares. Os distúrbios afetam todos os aspectos do aparelho motor e resultam em disfunção na respiração, na fonação, na ressonância e na articulação, as quais, juntas, levam a anormalidades na prosódia. Desde que os distúrbios periféricos estejam associados com um estado flácido generalizado, incluindo hipotonia, fraqueza e atrofia, as previstas mudanças no aparelho da fala seriam a hipofunção respiratória, hipofonação, hipernasalidade e desarticulação.

A lesão de algum componente da unidade motora determina a alteração do movimento voluntário, automático e reflexão, produzindo flacidez ou paralisia com diminuição dos reflexos de alongamento muscular. Também pode produzir-se atrofia das fibras musculares (perda da massa muscular). Na afetação do motoneurônio inferior pode-se observar fasciculações. A disfunção da união neuromuscular ocasiona uma debilidade ou fadiga cuja característica aparece em forma progressiva com o exercício e melhora com o repouso.

Disartrofonia Flácida - Tipo Focal

Neuropatias focais resultam de grande número de danos diferentes num nervo, como trauma. Na cabeça e no pescoço, procedimentos cirúrgicos secundários, pressão das estruturas adjacentes, infecções, toxinas, doenças vasculares, etc.

As dificuldades respiratórias acontecem em decorrência da disjunção do nervo frênico, levando a esse deriva da terceira, quarta e quinta raízes cervicais e inervam o diafragma. Lesões do nervo vago, tanto unilateral quanto bilateral, resultam em disfonia flácida, caracterizada por hipofonação. A disjunção do nervo vago - dano unilateral ou bilateral do ramo faríngeo do vago levará à fraqueza do palato mole e da faringe. Com lesões unilaterais, o exame visual do palato mole mostra que o velo, no lado afetado é mais baixo e menos elevado do que no lado normal. Lesões bilaterais resultam em que o palato torna-se mais baixo na cavidade orofaríngeo, não se elevando para o tamanho normal. A fraqueza resulta em hipernasalidade da fala, particularmente com dano bilateral. Quando unilateral, a fala pode parecer normal ou mostrar apenas um desvio muito leve. O nervo glossofaríngeo é, em grande parte, um nervo sensório que leva a sensação do revestimento da cavidade e da membrana timpânica, da célula de ar da mastóide, da trompa de Eustáquio, do palato mole posterior, da úvula, da epiglote e da parede posterior e lateral da faringe. O paladar da face posterior da língua é, também, conduzido por esse nervo. Ele inerva dois grupos de músculos, o estilofaríngeo, que está envolvido com a elevação do palato mole, e os músculos dos pilares das faces, que estão envolvidos na deglutição. Uma lesão nervo-glossofaríngeo sozinha comumente não resulta em mudanças da fala, embora uma ligeira hipernasalidade possa ser prevista. A articulação será prejudicada se houver lesão do nervo trigêmeo - o nervo trigêmeo inerva os músculos da mastigação, incluindo o miloióideo, o bojo anterior do digástrico, o tensor do tímpano, o tensor do velopalatino, o masseter, o temporal e o pterigóideo. Lesões unilaterais do trigêmeo não estão tipicamente associadas com alguma disartria significativa. A paralisia bilateral dos mastigadores conduz a uma incapacidade para fechar a mandíbula. Aronson salienta que "dano bilateral no 5¼ nervo pode destruir a fala mais do que qualquer lesão em outro nervo craniano. Fraqueza facial unilateral produz suave distorção das consoantes bilateral e labiodental. Se a fraqueza for severa, os lábios no lado envolvido não serão capazes de suportar o desenvolvimento da pressão intra-oral necessária para a produção desses sons. Lesões bilaterais resultarão em problemas mais severos e, quando completas, resultarão na incapacidade de produzir bilabial e labiodental explosivas normais. Dano unilateral do nervo hipoglosso resulta na perda da junção da metade afetada da língua, incluindo perda da massa do músculo e, freqüentemente, fasciculações. A articulação é caracterizada pela dificuldade de pronunciar os sons linguais. Dano hipoglossal bilateral conduz a mais severos problemas, porém similares, com os sons linguais. Mudanças prosódicas não são comuns nas neuropatias. A preservação geral da prosódia representa um fator significativo na distinção entre a patologia focal e a difusa.

Disartrofonia Flácidas - Tipo Difuso

As disartrias flácidas difusas são caracterizadas pela hipofunção em cada sistema da fala. A mais característica anormalidade notada por Darley e outros nesta disartria foi uma grande hipernasalidade. Alguns indivíduos demonstram um estridor inspiratório associado.

Mudanças de postura em doenças neuromusculares resultam em rápida perda de ar com corrente de ar incontrolada e pequeno volume de ar expiratório. Durante a fala, isto resulta em uma emissão curta e rápida de frase. A fraqueza da laringe leva à abdução incompleta na inalação e adução incompleta na exalação. Isto resulta em hipofunção, com mudanças na força, intensidade, qualidade e flexibilidade. A qualidade da voz é aberrante, tornando-se, em geral, resfolegante, embora Darley e outros, tenham notado uma qualidade de voz áspera em 23 de 30 pacientes com paralisia bulbar. Mudanças na ressonância são os mais característicos achados na disartria flácida. O exame do palato revela que o palato mole comumente se eleva, mas não com a extensão normal. Disartria flácida difusa está associada com a fraqueza difusa dos articuladores e conduz ao decréscimo na precisão dos fonemas. Anormalidades na prosódia resultam de problemas que ocorrem na respiração, na fonação, na ressonância e na articulação; podem representar mudanças compensatórias. Com a disartria flácida os pacientes falam com frases curtas, muitas vezes associadas com força e intensidade monótonas.

Disartrofonia Espástica

As síndromes do neurônio motor superior são clinicamente demonstradas pela presença da espasticidade da hemiplegia (fraqueza unilateral) e pela hiperreflexia. Com lesões bilaterais, a espasticidade bilateral e a paresia estão também associadas com outras características, incluindo disfagia, labilidade emocional e fraqueza bulbar. As últimas características se referem à paralisia pseudobulbar.

Dois tipos de disartrofonia podem ocorrer nas lesões do sistema piramidal. A disartrofonia mais característica está relacionada com lesões bilaterais e usualmente associada à paralisia pseudobulbar. A disartrofonia foi chamada "disartrofonia espástica" por Darley e outros e possui características distintas. O segundo tipo está associado aos distúrbios unilaterais piramidais e ocorre, tipicamente, associado à síndrome espástica hemiplégica.

Doenças Piramidais
Bilaterais

A doença piramidal bilateral resulta na síndrome da disartrofonia espástica. Esses indivíduos têm a tonalidade aumentada em todas as quatro extremidades, reflexos rápidos e reflexos patológicos.

Como observação particular, as pregas vocais são mantidas mais rigidamente do que o normal, apesar de no exame laringoscópico uma aparência normal estar conservada. As mudanças mais características incluem hiperfonação, desarticulação e hipoprosódia.

Talvez o porcentual mais característico das mudanças que ocorrem na disartrofonia espástica seja a hiperfonação. O indivíduo demonstrou uma qualidade esforçada, reprimida, áspera, com rebaixamento da freqüência fundamental.

Para as lesões unilaterais do sistema piramidal, a disartrofonia não é uma anormalidade proeminente. Isso não é, entretanto, totalmente verdadeiro, como pode ser visto na disartrofonia inábil, síndrome de Fisher. Indivíduos com ataques lacunares têm uma disartrofonia que pode representar uma incapacidade significativa. Com o ataque unilateral, a respiração não é um problema significativo.

A fonação pode ser normal. Pacientes com ataques unilaterais, principalmente com hemiplegia esquerda, têm alguma disfonia, e tendem a ser hipofônicos. A hipernasalidade pode estar presente, mas tende a ser leve. As anormalidades articulatórias são proeminentes e são completamente diferentes daquelas ouvidas na disartria espástica. Nesse caso, sons específicos ou grupos de sons estão desarticulados, um tanto mais que as anormalidades gerais notadas na disartrofonia espástica. Os problemas articulatórios freqüentemente melhoram com o passar do tempo. A diminuição da prosódia pode ocorrer, particularmente, com lesões corticais do hemisfério direto, mas também com as lesões no hemisfério esquerdo.

Disartrofonia Atáxica

Partindo das lesões cerebelares conclui-se que o cérebro regula a força, velocidade, duração e direção dos movimentos originados em outros sistemas motores. É, portanto, uma estrutura basicamente moduladora e inibidora.

A alteração de fala costuma apresentar-se coincidindo com lesões cerebelares bilaterais ou generalizadas. Estas se produzem em doenças degenerativas, encefalite, exposições tóxicas e em lesões vasculares disseminadas ou desmielinizantes, como a esclerose múltipla.

Na ataxia cerebelar, os músculos afetados estão hipotônicos. Os movimentos são lentos e impróprios em força, extensão, duração e direção. Com freqüência se observa nistagmo e os movimentos oculares podem ser irregulares. Existe um tipo de tremor característico, chamado intencional, que aparece ao ser executado um movimento intencional e que aumenta até o final do mesmo, ao aproximar-se do objetivo.

As características clínicas mais freqüentes relativas à disfunção laríngea são a aspereza da voz e uma monotonia no tom com poucas variações de intensidade. Entretanto, também se pode observar a presença de excessivas variações na intensidade, hipofonia ou tremor na voz.

Os desvios articulatórios mais importantes nas lesões cerebelares são a pouca exatidão consonantal e a distorção vocálica. Tipicamente, estes transtornos se apresentam de forma irregular e transitória, ainda que esta característica seja compartilhada com outras síndromes com movimentos anormais, como as coréias.

Tradicionalmente se designa a fala destes pacientes como "palavra escandida".

Disartrofonia Hipocinética

O termo disartrofonia hipocinética foi criado por Darley, Aronson & Brown para designar a disartria associada à síndrome parkinsoniana, especificamente a doença idiopática de Parkinson, porque a hipocinesia descreve a característica principal, que é a ruptura da fala nesses pacientes.

As afecções extrapiramidais se manifestam freqüentemente sob a forma de hipocinesia. Aparecem com lentidão e limitação no curso dos movimentos, diminuição dos atos espontâneos e associados, rigidez, tremor "de repouso" assim como perda dos aspectos automáticos dos movimentos.

A doença de Parkinson caracteriza-se tipicamente por hipocinesia. É uma afecção freqüente que afeta aproximadamente 1% da população de mais de 50 anos de idade. São características a face inexpressiva, a marcha de passos pequenos e com uma aceleração progressiva.

As características mais citadas pelos diversos autores em problemas da fala dos parkinsonianos são a debilidade da voz, disprosódia, articulação com falhas, falta de inflexão, pausas, dúvidas e fala em acesso. A hipofonia é típica nestes pacientes e em alguns observa-se um decréscimo da intensidade durante o decurso da fala. As frases tendem a ser curtas. Ës vezes se observam acelerações breves da fala, separadas por pausas.

O exame da função laríngea revela uma redução da eficiência fonatória devido a uma falta de flexibilidade e de controle dos movimento laríngeos. Por outro lado, o exame laringoscópico não revela nenhuma disjunção aparente.

Embora menos proeminentes que as mudanças prosódicas, também se evidencia imprecisão articulatória e um decréscimo na inteligibilidade da fala.

Disartrofonia Hipercinética

A disartrofonia hipercinética ocorre em pacientes que têm distúrbios do movimento que interferem nos padrões normais do movimento, como coréia, atetose, distonia, discinesia tardia, mioclônus palatal e tremores da voz. Estes movimentos adicionais rompem a fala em base intermitente, do que resulta a perda do padrão normal. Através da fala, por si só, pode ser difícil determinar qual o tipo específico do distúrbio do movimento presente, mas que há um padrão hipercinético, isto é facilmente discernível.

Disartrofonia hipercinética é o termo escolhido por Darley, Aronson & Brown para se referir às disartrofonias associadas com as formas hipercinéticas da doença extrapiramidal. Pode ser geral - a rigidez e a distonia dos músculos envolvidos na fonoarticulação podem acarretar irregularidade na respiração e quebras "aberrantes" de freqüência e intensidade; ou rápida - quebra repentina e irregulares de freqüência, variações da intensidade, afonia intermitente e fonação estrangulada; e ainda pode ser lenta - mudanças mais lentas na freqüência, intensidade e qualidade de fonação, monofreqüência e alteração intensa da modulação.

Avaliação das Disartrofonias

Existem inúmeras razões para se avaliar o paciente disártrico, entre elas: detectar ou confirmar uma alteração; estabelecer um diagnóstico diferente; classificar a disartria; detectar o local da lesão ou o processo da doença; especificar a severidade do quadro; estabelecer um prognóstico; especificar a ênfase do tratamento; estabelecer critérios para os limites do tratamento e medir qualquer mudança na paciente durante o tratamento.

Avaliação da Função Respiratória

O tipo respiratório dos pacientes neurológicos encontra-se adequado, entre os tipos mais observados na população normal clavicular ou superior e torácica. Geralmente o comprometimento encontra-se na amplitude do movimento e na regularidade dos ciclos respiratórios. Alguns pacientes podem apresentar alterações de ajustes compensatórios aos movimentos involuntários da musculatura respiratória, por exemplo.
Quanto ao modo respiratório, durante a fonação a inspiração deve ser de modo bucal-nasal alternado, rápida, silenciosa e afetiva, ou seja, deve haver condições suficientes para que o aporte de ar necessário entre nos pulmões. Avalia-se o modo respiratório, principalmente com auxílio de espelho de glatzel, para descartar ou evidenciar uma obstrução nasal, permitindo assim uma avaliação mais precisa de qualidade vocal.

A medida da capacidade vital é a mais comumente utilizada na clínica fonoaudiológica, visando à avaliação pulmonar, uma vez que o ar é a matéria-prima para a produção da voz. A capacidade vital é a quantidade de ar que se pode expirar dos pulmões, em seguida a uma inspiração máxima voluntária.

Na medida da capacidade vital, consideram-se os seguintes valores mínimos: 2100ml para as mulheres e 2200ml para os homens, em adultos normais da cidade de São Paulo. (Behlau & Pontes, 1995)

A medida da capacidade vital deve ser realizada com e sem oclusão digital das narinas. Através da comparação dos valores obtidos com e sem oclusão nasal pode-se verificar a presença de escape de ar pela cavidade nasal, decorrente da incompetência da esfíncter velofaríngeo. A diferença considerada normal entre os dois valores é de 200ml. (Behlau & Pontes, 1995)

As alterações do padrão respiratório abrangem o início da emissão após o início da fase expiratória, excesso de pausas inspiratórias e uso de ar de reserva, entre outros, o que pode se refletir numa incoordenação pneumo-fonoarticulatória.

A coordenação pneumo-fonoarticulatória é o resultado da inter-relação harmônica das forças expiratórias, mioelásticas da laringe e musculares da articulação. Uma alteração em qualquer dos três níveis quase que invariavelmente gera compensações nos outros dois. Todo este mecanismo é comandado pelo sistema nervoso central, que manda ordens precisas para cada sistema atuar, de forma que a ação seja sincrônica.

Avaliação da Função Fonatória

A avaliação da função fonatória nas disartrofonias é clinicamente importante por uma série de razões. Primeiramente, os distúrbios fonatórios têm um papel de destaque no estabelecimento do diagnóstico diferencial. A fonação normal requer um controle motor extremamente preciso. Qualquer fraqueza, lentidão ou incoordenação da musculatura laríngea pode ser percebida através da voz. A identificação de sinais e sintomas laríngeos, portanto, pode auxiliar no diagnóstico diferencial precoce de algumas doenças progressivas como no parkinsonismo ou na miastenia graves. Nos casos mais severos, o exame das características fonatórias pode revelar informações importantes sobre a neuropatologia subjacente. Além disso, a compreensão total dos aspectos fonatórios das disartrias também é de crucial importância no planejamento terapêutico.

Geralmente a função laríngea e o trato vocal podem ser descritos por quatro parâmetros: a qualidade vocal, a ressonância, a freqüência e a intensidade vocal.

A qualidade vocal é um fenômeno perceptual complexo relacionado à periodicidade do ciclo vibratório das pregas vocais e à ressonância do trato vocal e pode ser perceptualmente descrita por uma infinidade de termos. Os tipos de vozes mais freqüentemente encontrados associados ás doenças neurológicas são a voz tensa-estrangulada e a voz soprosa.

É sempre importante avaliar a estabilidade da emissão, principalmente durante a sustentação de vogais, pois esta tarefa facilita a identificação da instabilidade fonatórias, muitas vezes não-perceptíveis na fala encadeada.

A freqüência da voz é um parâmetro que reflete o número de ciclos vibratórios das pregas vocais por segundo e é percebida auditivamente como pitch. As alterações do pitch podem abranger vozes agudas ou graves, de acordo com a patologia subjacente. De modo geral, as vozes mais agudas estão associadas a um padrão hipertônico e ou hipercinético da laringe, e as vozes graves estão associadas a laringes hipotônicas e ou hipocinéticas ou decorrentes da fonação ventricular.

A intensidade vocal é uma medida do nível de energia sonora diretamente relacionada à pressão aérea subglótica e é perceptualmente interpretada pela loudness. A alteração mais freqüentemente encontrada nas disartrofonias é a voz fraca.

Exemplos de instabilidade de intensidade vocal podem ser a monointensidade, típica das síndromes parkinsonianas, e as variações excessivas de intensidade, decorrentes de movimentos involuntários da musculatura laríngea e/ou respiratória.

O sistema de ressonância pode ser avaliado quanto ao foco vertical e horizontal. Quanto ao foco vertical, a ressonância pode apresentar-se equilibrada, hipernasal ou laringo-faríngica. O foco horizontal de ressonância encontra-se diretamente relacionado com o posicionamento da língua na cavidade oral e à sua mobilidade durante a fala.

A sustentação dos tempos máximos fonatórios e a relação s/z podem ser utilizadas como indicadores da eficiência laríngea pois refletem a forma pela qual a corrente aérea expiratória é valvulada ao nível das pregas vocais.

A eficiência laríngea também pode ser avaliada pela estimativa do fluxo aéreo. Esta avaliação pode ser realizada através de um pneumotacógrafo ou por valores estimados, tal como o coeficiente de fonação.

Avaliação da Função do Esfíncter Velofaríngico

O grau de oclusão do esfíncter velofaríngico depende de algumas variáveis, por exemplo, da função exercida - sopro, sucção e deglutição - e do som emitido - vogais e consoantes.

A avaliação do esfíncter velofaríngico pode ser iniciada através da avaliação do reflexo de gás ou reflexo de vômito, com o objetivo de detectar a sensibilidade da região faríngea, e a ação do X par (vago).

Para se avaliar a função do esfíncter velofaríngico, deve-se observar seu aspecto e movimentação durante a emissão da vogal /a/, e através do escape de ar nasal, utilizando o espelho de glatzel colocado embaixo do nariz durante a produção da fala. Usualmente a avaliação é realizada durante a emissão prolongada dos fonemas: /i/, /u/, /f/, /s/, / /, /v/, /z/, / / e durante a emissão de frases.

Avaliação da Articulação Oral

Deve-se iniciar a avaliação pela observação de todas as estruturas responsáveis pela articulação: lábios, língua, bochechas e mandíbula. Verifica-se o aspecto, postura, tônus, sensibilidade, mobilidade de cada estrutura; em seguida, avalia-se o quadro fonêmico através da repetição de palavras que contêm os sons da fala em posição inicial e medial.

Em relação à diadococinesia, capacidade de fazer movimentos rápidos e alternados, avaliam-se a velocidade e o ritmo de fala, através da emissão de uma seqüência de sílabas com sons plosivos, por um período de sete segundos.

Análise Fisiológica da Disartrofonia

Pode ser feita através de estudos eletromiográficos; estudo do movimento das estruturas fonoarticulatórias (transdutores eletrônicos, técnicas de ultrassom, videofluoroscopia ou endoscopia); aerodinâmica fonoarticulatória, (taxas de pressão e fluxo aéreo nas vias aéreas respiratórias superiores e inferiores/manometria); acústica fonoarticulatória, análise espectográficas, oscilográficos e medidas acústicas).

Planejamento Terapêutico

Um tratamento fonoaudiológico adequado pode compensar os distúrbios disártricos. O objetivo visado deve ser a coordenação global do paciente, coordenação esta que vai desde o relaxamento do enfermo até a melhor articulação que ele consiguiu obter, passando em etapas gradativas, pela correção respiratória, modificação eficaz da emissão sonora e adequação da ressonância.

A sintomatologia da disartrofonia está longe de ser simples em sua identificação e se requer experiência e habilidade para diferenciar os sintomas que, sendo semelhantes, podem proceder de transtornos muito diferentes. Por exemplo, a super-nasalização na voz pode estar sendo causada tanto por flacidez como por espasticidade. No conjunto dos sintomas de um mesmo paciente podem dar-se padrões de interação diferentes; por exemplo, a distorção de consoantes pode resultar de um limitado suporte respiratório, de uma insuficiência velar ou de uma insuficiência laríngea. Portanto, a avaliação deverá ser detalhada, incluindo tanto a valorização da fala como a anormalidade neuromuscular subjacente.

Os sintomas devem ser ordenados hierarquicamente dentro do quadro de cada paciente. Por exemplo, num Parkinson, o sintoma principal da fala pode ser um volume de voz inadequado, e o principal sintoma neuromuscular, uma rigidez do tronco. Tratando-se a rigidez mediante fisioterapia poder-se-á aplicar com maior eficácia segmentos para dar ênfase); compensação protética, eliminação de comportamento mal adaptados (nem sempre os esforços compensatórios são benéficos); estratégicos para melhora da interação (trino de interação dos ouvintes com os pacientes disártricos ); manutenção das habilidades de comunicação (atividades de treinamento); redução da limitação (melhora da participação em atividades sociais, educacionais ou vocacionais).

As mudanças a serem conseguidas nos sintomas dirigem-se aos seguintes campos: sistema sensório-motor-oral, respiração, fonação, ressonância, articulação.

Avaliação do Sistema Sensório-motor-oral

São três os elementos básicos para a fala. A postura num paciente disártrico pode ser normal ou anormal (por exemplo, na paralisia). Em cada caso se valorizará se a modificação da postura do paciente vai influir positivamente na qualidade de sua fala. A postura do paciente pode ser melhorada com a ajuda de aparelhos e prótese. No caso de paresia abdominais e diafragma) e em caso de tremor, a posição de supino pode melhorar a fala ao proporcionar maior estabilidade aos músculos. Também pode-se melhorar a postura para estes músculos na paresia, mediante faixas protéticas e sobretudo pela ginástica de braços. Em alguns casos de paralisia velofaríngea, em que haja escape de ar nasal na fonação, coloca-se prótese para elevar o véu do palato. O excesso de movimento, na hipercinesia, se pode aprender a controlar colocando-se no paciente um pequeno objeto entre os dentes, devendo sujeitá-lo enquanto articula a palavra. Os movimentos da língua podem ser melhorados modificando-se a postura da cabeça (para frente ou para trás).

O tônus muscular na espasticidade e na rigidez pode ser melhorado aplicando-se os métodos tradicionais de relaxação. Na hipertonia moderada aplica-se o método de mastigar (Froeschels, 1952), incrementando-se a base fisiológica da mastigação, primordial no movimento da fala. Na hipotonia e na paralisia estimula-se o paciente para que aumente o esforço da fala e prolongue a duração dos sons. Procura-se uma postura adequada na qual o paciente possa empurrar com os braços apoiados para baixo, para aumentar a energia do movimento da fala.

Para aumentar a força realizam-se exercícios respectivos (protusão da língua e mandíbula, elevação da língua e palato, extensão, abertura e fechamento de lábios) forçando-se ao máximo a ação muscular em cada movimento sem que o paciente fique exaurido, mas chegando ao limite de suas possibilidades. O terapeuta opõe resistência com os dedos contra a mandíbula e contra os lábios, respectivamente. Também se usam rolhas ou botões de diferentes calibres, que o paciente deve sustentar com os lábios contra a oposição do terapeuta que segura um fio preso à rolha.

Os exercícios com a língua são passivos no começo (protusão e elevação). Massageia-se e estimula-se o palato mole.

Respiração

O paciente disártrico costuma queixar-se de que tem que fazer grandes esforços para obter ar suficiente par falar, que não pode falar alto ou que fica sem ar ao falar. A paralisia e a distonia se manifestam por uma redução do volume global pela dificuldade em adotar a posição de contração da diafragma e protusão do abdome na inspiração, ou por impossibilidade de realizar uma inspiração rápida, aumentando a capacidade torácica sem recorrer à elevação dos ombros.

Exceto na patologia da medula espinhal, em que a deficiência da respiração é a única anormalidade importante, deve-se valorizar a importância do transtorno respiratório referente ao conjunto de sintomas. Mas, em geral, se trata de uma limitação respiratória significativa para a fala (por distonia ou paralisia) se iniciar o tratamento melhorando a respiração. Como base, se reforçam os músculos do tronco mediante fisioterapia e se aumenta a capacidade geral de esforço do paciente.

Começa-se treinando o paciente a controlar a expiração, segurando o ar durante tempo previamente determinado, usando para controle um manômetro graduado. Vão-se aumentando progressivamente a pressão e a duração até serem alcançados valores normais. Também pode-se controlar a expiração emitindo-se sons verbais isolados e incrementando a duração enquanto se mantêm a intensidade e qualidade sonora. Uma vez alcançada a expiração máxima estável em tarefas não-verbais, começa-se a praticar a fala emitindo-se séries de sons intermitentes, aumentando pouco a pouco o número na série, combinando vogais e consoantes e procurando melhorar a qualidade (não só a duração). Mais adiante, praticamente estas séries com diferentes entonações e variando-se também o volume, envolvendo o fator prosódico da fala.

Para o estabelecimento de suporte respiratório pode-se usar: garrafas com canudos, emissão de vogais sustentadas monitoradas com VU meter, repetição de sílabas e frases, ajustes posturais, prótese respiratória.

Exercícios Respiratórios Específicos

Com o paciente deitado em decúbito ventral, fazer movimentos de vibração nas costelas. O mesmo exercício em decúbito dorsal.

Paciente deitado em decúbito dorsal, comprimir fortemente as costelas móveis e soltas, dizendo inspira e aperta novamente, dizendo expira.

Paciente deitado, pegar as pernas pela articulação do pé, flexioná-los ao máximo, trazendo o joelho ao peito ou o mais perto possível. Ao levantar a perna, inspira e ao voltar a perna, inspira e ao voltar a perna, expira.

Paciente de pé, estirar a gaiola torácica. Segurando os braços pelo punho, o terapeuta os leva acima da cabeça do paciente.

Paciente de pé, levanta os braços e estica alternadamente como se fosse pegar alguma coisa. Quando esticar o direito, inspirar e, quando for o esquerdo, expirar.

Levar os braços acima da cabeça e descê-lo acompanhando com o corpo. Inspirar quando levantar e expirar quando abaixar.

Instalação do mecanismo nasobucal e exercício de sopro mais sistemáticos.

Inspirar pelo nariz, pausa, expirar pela boca (sopro). Caso o paciente tenha dificuldade nesta instalação, o terapeuta pode usar de alguns artifícios, como expirar soprando uma vela, uma luva, papel de bola franjado ou bolinhas de isopor.

A Ressonância

A paresia e a incoordenação velofarígea dão lugar a uma hipernasalidade, ao escapar o ar pelo nariz na fala. A nasalização é constatada ao se pronunciarem sílabas e palavras que têm consoante não-nasais e se determina em que pontos articulatórios se evidencia o problema.

Se a hipernasalidade for importante, ou se influir no transtorno de outros processos da fala, pode-se reforçar a musculatura velofaríngea mediante a aplicação de correntes elétricas que estimulam o pilar anterior do palato ou mediante massagem (na direção anterior posterior e médio lateral) no palato mole enquanto o paciente procura elevá-lo acompanhando uma produção verbal. A massagem será realizada com o dedo indicador. Para exercitar a ressonância são, primeiro, consoantes explosivas e vogais graves, deixando-se para mais adiante as agudas e demais consoantes.

Para melhorar a ressonância (Froeschels, 1943), o controle da velocidade - sobre articulação vocal fry.

Quando necessário usam-se métodos protéticos (prótese de palato ) ou método cirúrgico (injeção de teflon, retalho faríngico).

Há anomalias da ressonância resultantes da má postura da língua: neste caso, serão tratados seguindo-se os exercícios próprios para a articulação.

A Fonação

O déficit laríngeo produz anomalias na voz (disfonia, voz sem timbre, redução da textura tonal ou mudanças do tom ao falar). Quando a voz é estrangulada, procura-se relaxar os músculos supralaríngeos (massagem manual na zona dos músculos hióideos). Em continuação, se pronunciam sílabas, palavras e frases. Se a voz melhorar, pode-se praticar uma sessão de relaxamento ao início de cada sessão.

Como recursos terapêuticos, pode-se usar a fonação reflexo (tosse, pigarro, manipulação digital e riso).

Para o desenvolvimento da fonação, reflexo de modo repetitivo e exercícios de empuxe.

Como terapia fisiológica e sintomática temos:
- Adução laríngea: hiperadução (espásticas, hipercinética); usam-se bocejo, suspiro, fonação inspiratória.
- Instabilidade fonatória (som nasal, som vibrante)
- coordenação: timing respiratório - laríngeo - articulatório: diadococimesia; distinção surda\sonora (prolongamentos das vogais anteriores aos fonemas sonoros).

Em alguns casos, faz-se necessário tratamento protético (sistemas de amplificação).

A articulação

Na disartrofonia, o tratamento da articulação é sem dúvida mais difícil do que em outros sintomas.

A finalidade do tratamento sobre a articulação é melhorar o controle da produção dos sons da fala na linguagem dentro dos limites que permitem o suporte fisiológico de que dispõe o paciente.

Seleciona-se um som ao qual se associam apoios visuais, gestuais e gráficos que mostrem ao paciente como se realiza este som, qual é o movimento e a posição correta para executá-la. O paciente disártrico sabe como realizar o som (não o esqueceu como é ao caso inapropriado ou a uma incoordenação ao longo do trato vocal, omite ou em geral distorce a sonorização. É importante considerar-se o contexto fonético de tal som. Começa-se exercitando aqueles sons que sejam mais fáceis para o paciente.

Deve-se proceder seguindo-se uma ordem de dificuldade crescente e comparar sempre o som-modelo com o som-erro. Através destes contratos o paciente aprende o sistema sensório-motor-oral.

As disartrofonias tendem a estar associadas a várias condições neuromusculares patológicas, por exemplo, espasticidade, atetose, rigidez, tremor, hipocinesia e flacidez. Cada uma destas condições é relativamente distinta dentro da neurofisiologia clínica e a natureza do mecanismo neural associado está em contínuo estudo. Para a prática clínica fonoaudiológica na área das disartrofonias, é de inquestionável valor a compreensão dos mecanismos subjacentes às diferentes condições neuromusculares patológicas.

Conclusão

As disartrofonias fazem parte de um quadro neurológico comprometido. Devido à sua íntima relação com a fala elas são consideradas, pelo paciente e familiares, como o principal fator de isolamento social e estado de depressão.

A fonoterapia praticada com embasamento teórico-científico pode auxiliar indivíduos, no sentido de adequar, dentro dos limites de patologia, a produção vocal e articulatória, favorecendo uma comunicação efetiva, melhorando os aspectos psicossociais, dando parâmetro para uma melhor qualidade de vida.

Fonte: Site Pro Fala
Autora: Maria Evanice Medeiros