A
cirurgia ortognática é um método utilizado para a correção das
desproporções maxilomandibulares, tendo como objetivo proporcionar
o equilíbrio entre as funções estomatognáticas (sucção,
mastigação, deglutição, fala e respiração) e as estruturas
anatômicas. O fonoaudiólogo é um profissional com um importante
papel na equipe. Sua atuação visa a reorganização neuromuscular
para que haja uma execução harmônica das funções
estomatognáticas, após a correção cirúrgica. O acompanhamento
fonoaudiológico é fundamental para evitar recidivas, que podem
surgir em decorrência da não-adaptação do sistema
estomatognático. Devido ao grande número de alterações
craniofaciais e oromiofuncionais apresentadas pelos portadores de
desproporções maxilomandibulares, torna-se evidente a importância
de uma equipe multidissiplinar acompanhando esses casos. Essa equipe
é composta por ortodontista, cirurgião bucomaxilofacial,
fonoaudiólogo, entre outros.
O
tratamento ortodôntico na fase pré-operatória, tem como finalidade
corrigir os maus posicionamentos dentários, para que, após a
cirurgia, seja possível conseguir uma boa oclusão dentária e uma
mastigação eficiente. No pós-operatório, a ortodontia objetiva a
estabilização dos resultados da cirurgia, procurando evitar
recidivas. Na equipe, o cirurgião bucomaxilofacial atua no
reposicionamento das bases ósseas (maxila e mandíbula).
O
papel do fonoaudiólogo é de adequar a musculatura e as funções
estomatognáticas ao novo padrão oclusal do indivíduo. A
participação desse profissional deve começar ainda na fase
pré-operatória, diagnosticando as alterações miofuncionais orais
que possam comprometer e resultado obtido pelos tratamentos
ortodôntico e cirúrgico.
A
orientação e o tratamento fonoaudiológicos diminuem
considerávelmente os riscos de recidivas. A atuação
fonoaudiológica oocorre em três fases distintas: pré-operatória;
período de bloqueio maxilomandibular ou período de repouso da
atividade mastigatória (35 a 60 dias); e após a retirada do
bloqueio, ou após o período de repouso da mastigação.
As
orientações devem ser iniciadas na fase pré-cirúrgica, entre um e
três meses antes da cirurgia, a fim de desenvolver a percepção dos
mecanismos e padrões musculares corretos envolvidos no repouso e nas
funções orais. Esse trabalho no pré-operatório tem grande
relevância no período pós-cirúrgico, no qual os impulsos
aferentes sensitivos são enviados ao sistema nervoso central,
desenvolvendo uma nova propriocepção.
A
avaliação fonoaudiológica consiste na análise dos aspectos
anatômicos, morfológicos e posturais das estruturas orofaciais, e,
principalmente, da funcionalidade dessas mesmas estruturas durante a
realização das diferentes atividades oromiofuncionais. O objetivo
dessa avaliação pré-cirúrgica é detectar desequilíbrios
importantes que possam influenciar negativamente no resultado da
cirurgia.
A sensibilidade também precisa ser muito bem avaliada ainda no pré-operatório. A gustação, o olfato e as sensibilidades tátil e térmica podem sofrer alterações transitórias após a cirurgia.
Quando há um espaço intrabucal diminuído, associado a uma tonicidade muscular muito comprometida, inicia-se o trabalho muscular e proprioceptivo ainda no pré-operatório. Nesses casos, inicia-se também a adequação da mastigação e da deglutição, pois, iniciando a reabilitação nesse período maiores serão os benefícios ao paciente no pós-operatório, isso porque as forças anômalas da língua, estando bem trabalhadas, não poderão desestabilizar o bloqueio, oferecendo maior segurança no período de retirada do mesmo.
No pós-cirúrgico, usam-se elásticos ortodônticos entre as arcadas nas primeiras semanas, objetivando pequenos ajustes para garantir a estabilidade oclusal. Isso possibilita ao paciente higienizar os dentes e falar de uma forma segura nos primeiros dias após a cirurgia. No entanto, o paciente é orientado a não comer sólidos, a fim de evitar movimentos mastigatórios.
Em certos casos, o bloqueio maxilomandibular é utilizado por um período mais longo. Isso pode ocasionar uma adaptação miofuncional oral espontânea. Essa adaptação é consequência da falta de mobilidade que “apaga” o esquema proprioceptivo anterior. Existem casos também em que, após a cirurgia e o correto posicionamento dentário, os tecidos moles não se reestruturam satisfatóriamente, não apresentando boa resposta funcional. Sendo assim, alguns hábitos inadequados podem permanecer, forçando as estruturas operadas e prejudicando os tratamentos ortodôntico e cirúrgico. Por isso, é muito importante a fonoterapia nesses casos, para ajudar o desenvolvimento de um novo padrão funcional adequado à nova forma, antes do surgimento de novos mecanismos adaptativos.
As funções estomatognáticas são automáticas, pois ocorrem abaixo do nível de consciência. Por serem automáticas, dependem da propriocepção dos tecidos duros e moles que compõem a cavidade oral e a face. As mudanças bruscas ocasionadas pela cirurgia, podem resultar em uma “confusão funcional”, que desestabiliza a motricidade orofacial do paciente, afirmam Aléssio, Mezzomo e Korbes (2007).
Os riscos de uma recidiva no pós-operatório da cirurgia ortognática serão bem reduzidos se as estruturas orofaciais e suas funções estiverem adequadas, mantendo a harmonia da oclusão e não forçando essas estruturas com os antigos padrões adaptativos.
Bibliografia
consultada:
ALÉSSIO
CV, MEZZOMO CL, KORBES D. Intervenção Fonoaudiológica nos
casos de pacientes classe III com indicação à
Cirurgia Ortognática. Arquivos em Odontologia, Volume 43,
Nº 03, Julho/Setembro de 2007
FRAGA
JA, VASCONCELOS RJH. Acompanhamento fonoaudiológico pré e
pós-operatório de cirurgia ortognática: relato de caso.
Por:
Sabrina Leão
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