Ao
ingressar na escola, as crianças de forma geral, já apresentam uma
certa competência no uso comunicativo da linguagem oral,
apresentando um sistema fonológico adequado, um inventário fonético
completo e bom desempenho sintático, semântico e pragmático, que
lhes possibilita uma comunicação efetiva. Entretanto, ao entrar em
contato com o código escrito, através da relação grafema-fonema,
ou seja, precisa entender a relação arbitrária que se estabelece
entre os sons que fala e a grafia que os representa. Isto requer uma
certa capacidade de refletir sobre a linguagem, mais especificamente
sobre os sons da fala.
Alguns
autores definem o desenvolvimento da linguagem escrita como uma
extensão do desenvolvimento da linguagem oral, uma vez que o
alfabeto é uma representação gráfica da linguagem no nível de
fonema.
Para
que essa representação aconteça, é preciso que o aprendiz do
código escrito já possa, de alguma forma e em algum nível,
objetivar a palavra ou o enunciado, direcionar a atenção para sua
estrutura, perceber seus segmentos (maiores ou menores) e
manipulá-los de diferentes formas. Essa capacidade de percepção
dirigida aos segmentos da palavra chama-se consciência fonológica,
a qual é uma capacidade metalinguística, um conhecimento
metafonológico, que se apresenta por meio da possibilidade de se
focalizar a atenção sobre os segmentos sonoros da fala e
identificá-los ou manipulá-los.
De
uma atividade inconsciente e desprovida de intenção, essa
capacidade evolui para reflexão intencional e atenção dirigida. A
intencionalidade é sua característica principal. Essa capacidade
também evolui da identificação de rimas e silabas para a
possibilidade da identificação de elementos discretos (fonemas) que
existem na fala, em um nível abstrato (consciência da natureza
psicologicamente segmentada da fala).
Definição
e formas de manifestação
A
consciência metalinguística é definida como sendo as reflexões
conscientes do falante e do ouvinte sobre alguns aspectos primários
das atividades linguísticas como o falar e o ouvir.
Consciência
fonológica é um subtipo da consciência metalinguística, esta é
definida como capacidade de compreender a maneira pela qual a
linguagem oral pode ser dividida em componentes cada vez menores:
sentenças em palavras, palavras em silabas e silabas em fonemas. A
capacidade de refletir sobre os sons da língua e manipulá-los
requer habilidades como adição e deleção de sons, segmentação,
discriminação de sons específicos em uma mesma palavra, apreciação
de rimas, reversão silábica, memorização e sequencialização de
sons além da correlação da imagem articulatória do som e de sua
respectiva produção.
Assim
sendo, quando se estuda o desenvolvimento da linguagem, é fácil
perceber que, quando a criança começa o aprendizado formal do
código escrito, já deve ter finalizado há algum tempo o
desenvolvimento fonológico da linguagem oral, além de já usar
corretamente as regras gramaticais da língua.
Desde
os quatro anos de idade, a partir da estruturação de seu sistema
fonológico e da possibilidade de produzir corretamente todos os sons
da fala, a criança já demonstra eficiência na realização de
algumas tarefas, as quais evidenciam sua capacidade, seja de reflexão
sobre um enunciado, seja de manipulação da sua estrutura (silabas,
rimas, palavras).
Essa
capacidade metalinguística de realizar diferentes tarefas de
segmentação da fala, quando associada ao conhecimento do alfabeto,
pode possibilitar o aprendizado do domínio do código da escrita.
Portanto, antes dos seis anos de idade, as crianças já apresentam
bom desempenho em análise silábica (mas são praticamente incapazes
de contar os fonemas de qualquer palavra).
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